A multidão que este ano acompanhou o Círio de Nazaré, num trajeto de 4,6 km pelas ruas do centro de Belém (PA), bateu todos os recordes nos 218 anos em que a romaria é realizada: 2,2 milhões de fiéis, segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A maior manifestação católica do mundo, incluindo o próprio Círio e as procissões que o antecedem, como as romarias rodoviária e fluvial, além da Trasladação, ontem à noite, mobilizou cerca de 4,2 milhões de devotos de várias partes do Brasil e até do exterior.
As Forças Armadas e as polícias militar e civil utilizaram dez mil homens e mulheres, acrescidos de 12 mil voluntários da Cruz Vermelha, para garantir a segurança dos romeiros. O novo arcebispo de Belém, dom Alberto Taveira, ficou impressionado com a devoção dos paraenses e também ao ver tanta gente nas ruas. “É uma demonstração de fé única, que não pode ser descrita, mas vivida”, disse.
O papa Bento XVI enviou mensagem ao povo paraense lida por dom Taveira antes do começo da romaria, durante missa na Catedral da Sé. “A devoção mariana contribui para a manifestação de fé, a união do povo católico, e reestrutura a igreja em torno de um só credo”, observou o papa. Durante a romaria, chamava atenção a quantidade de pessoas que pagavam promessas por graças alcançadas, levando na cabeça e nas mãos réplicas de casas, barcos ou parte do corpo humano, como braços, pernas e cabeças, confeccionadas em cera.
O inglês Edward Powell, que viajou 11 mil km para acompanhar o Círio pela primeira vez, não conteve a empolgação: “nunca vi nada igual. O povo brasileiro tem uma fé que contagia qualquer um.” Ao seu lado, o canadense Nelson Ratcliff acrescentou ter ficado impressionado ao ver 15 mil fiéis, com pés descalços e agarrados uns aos outros, numa temperatura de 38 graus, segurando uma corda atrelada à berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Ratcliff esteve em 2008 na peregrinação à Meca, na Arábia Saudita, a maior manifestação muçulmana do mundo oriental, mas garante que ela não se compara ao Círio dos paraenses, que para ele é, ao mesmo tempo, “transcendente e original”.