Um grupo de cientistas desvendou o mecanismo usado pelo vírus do Ebola para infectar uma célula e descobriu que a tetrandrina – uma molécula de origem vegetal -, é capaz de frustrar a “estratégia” do vírus, impedindo a infecção pelo Ebola em testes feitos com camundongos. Os autores do estudo, publicado na revista Science, acreditam que a descoberta pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento de uma droga contra o Ebola.
A equipe, liderada por Robert Davey, do Instituto de Pesquisa Biomédica do Texas (Estados Unidos), descobriu que, para invadir uma célula, o vírus do Ebola depende de canais de cálcio – estruturas semelhantes a “túneis” em membranas das células, que permitem que elas transmitam cargas elétricas entre si, controlando vários processos celulares.
Ao ser engolidas pelas células, partículas do vírus ficam armazenadas em “depósitos” chamados endossomos. Para completar a infecção, essas partículas virais precisam passar pela membrana do endossomo, espalhando-se por vários compartimentos da célula. De acordo com os cientistas, para entrar no endossomo, o vírus usa canais de cálcio de duplo poro que existem em sua membrana.
Em estudos anteriores, eles já haviam descoberto que os canais de cálcio eram importantes para a infecção. “Mas nós não fomos capazes de identificar os mecanismos envolvidos nesse processo.
Com a nova pesquisa, nós descobrimos canais de cálcio de duplo poro que estão envolvidos na infecção do vírus Ebola. Esses canais precisam ser ‘ligados’ para que o vírus funcione direito”, disse Davey.
Os autores revelaram, no artigo, o papel crítico dos canais de dois poros na infecção por Ebola – algo que até hoje não havia sido demonstrado em nenhum outro vírus. Além de identificar o mecanismo da infecção, a equipe também mostrou que drogas capazes de agir nessa interação apresentam alguma eficácia como potencial tratamento contra a doença causada pelo vírus Ebola.
No estudo, os cientistas determinaram que as drogas atualmente utilizadas para tratar pressão alta têm a capacidade de “ligar e desligar” esse sensor de cálcio. Em parceria com um grupo em Munique, na Alemanha e com o Instituto de Pesquisa do Sudoeste (Estados Unidos), a equipe testou diversas pequenas moléculas para ver qual seria a mais eficaz para desativar os sensores e, assim, impedir os movimentos do vírus Ebola na célula.
A equipe descobriu que a tetrandrina, extraída de uma planta asiática, foi capaz de proteger camundongos da doença sem efeitos colaterais evidentes. A substância foi considerada a melhor candidata para futuros testes em animais – por ser o mais potente composto testado e por ter mostrado poucas evidências de toxicidade. Com isso, ela requer uma dose menor para ser eficaz e tolerável.
“Quando testada em camundongos, essa droga impediu a replicação do vírus e salvou a maior parte deles da doença”, disse Davey.
A droga, segundo o estudo, mostra a capacidade de parar o vírus antes que ele tenha a chance de interagir com fatores celulares, impedindo que ele continue seu processo de infecção. “Estamos muito animados com o progresso feito nesse estudo. O próximo passo do processo será testar a segurança e a eficácia das interações entre essa droga e o vírus Ebola em primatas não humanos”, disse o cientista.
A tetrandrina, no entanto, não foi aprovada para uso em humanos na maioria dos países e a dose que foi dada aos camundongos poderia ser tóxica se a proporção equivalente fosse usada em humanos.