A exemplo de artistas e intelectuais que se uniram pela volta do Ministério da Cultura, cientistas, pesquisadores e professores universitários se mobilizam contra a fusão dos Ministérios da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e das Comunicações. Nesta quarta-feira, 25, cem deles participaram do lançamento da Frente Contra a Extinção do MCTI, na Coordenadoria de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Eles programam uma série de ações, como abraço a prédios históricos, convocação de alunos e abertura de laboratórios nos fins de semana. De acordo com professores, a fusão já causou problemas: estudantes de 55 programas de formação de recursos humanos estariam sem receber bolsas. “A extinção do MCTI já impactou o pagamento de bolsas de alunos de graduação e pós-graduação vigentes no programa de recursos humanos (PRHs), que atuam nas áreas de petróleo e gás. São alunos que não têm como dar continuidade às pesquisas”, afirmou a professora do Instituto de Química da UFRJ Jussara Miranda.
A preocupação dos cientistas é com a desorganização de redes de pesquisa. Em um caso como o da epidemia de zika, em que diversas instituições se mobilizam para entender desde a estrutura do vírus à microcefalia, passando pelo desenvolvimento de medicamentos e vacinas, não haveria resposta rápida se os grupos de pesquisas não estivessem ativos, com bolsistas, alunos de iniciação científica, mestrandos e doutorandos atuando nos laboratórios.
Para o reitor da UFRJ, Roberto Leher, a extinção do MCTI surpreendeu a comunidade científica brasileira, que estaria agora diante de um “aviso de incêndio”. “É uma reforma sem debater com a cidadania, imposta por um governo interino.”
Ele ainda criticou o deslocamento da ciência e tecnologia para um “âmbito inferior”. “A fusão vai desarticular as políticas de ciência e tecnologia em curso nas universidades públicas. Com o MCTI, foi possível capilarizar a ciência em todo o território nacional.”
Patrimônio
Ex-presidente da Agência Espacial Brasileira e ministro da Ciência e Tecnologia na transição entre os governos Fernando Collor e Itamar Franco, Luiz Bevilacqua disse que o patrimônio construído ao longo dos últimos 30 anos corre o risco de se perder. “Se a gente fecha uma fábrica de automóveis hoje, daqui a dois anos reabre sem grandes prejuízos. Mas interromper o processo de desenvolvimento científico e retomar depois de um ano é um desastre quase irrecuperável”, comparou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.