Cidades que vivem o surto de febre amarela receberam a recomendação do Ministério da Saúde de redobrar a atenção e reduzir ao máximo os criadouros de Aedes aegypti, mosquito que pode transmitir a forma urbana da doença. “É uma medida de precaução. A experiência mostra ser necessário um alto índice de infestação de Aedes aegypti para que se estabeleça um ciclo de transmissão de febre amarela nas cidades”, afirmou o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Hage.
Além da recomendação aos prefeitos, Hage afirmou que exames vêm sendo realizados em Aedes capturados da região e vetores da forma silvestre, o Haemagogus e Sabethes, para verificar se eles estão contaminados. Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao jornal “O Estado de S. Paulo”:
Quais fatores levaram o Brasil a enfrentar a pior epidemia de febre amarela desde os anos 1980?
Em 2008, houve também um surto da doença, que atingiu uma grande extensão territorial. A área geográfica agora é menor. Mas o que chama atenção é a velocidade com que o surto está se propagando. Uma das explicações pode ser o local dos primeiros casos: municípios mineiros, onde a cobertura da vacina é baixa, e Espírito Santo, que não tinha indicação até agora para vacinação.
Mais Estados terão a vacina contra febre amarela na rotina?
Onde tiver casos de mortes de macacos por febre amarela e casos da doença em humanos, a vacinação vai passar a ser rotina, de forma permanente. A quantidade de cidades que serão incluídas neste mapa será definida depois de terminado o surto. Vamos ver até onde vai evoluir essa circulação viral.
O senhor acha que o vírus pode estar mais agressivo?
Acho difícil. O vírus é muito estável. Em outros surtos, não foi detectada alteração do vírus. Em geral, estão envolvidos fatores ambientais. Mas quais são eles e como eles de fato interferem na mecânica de transmissão, isso não é conhecido. Existem dois artigos que fazem uma relação do aumento de casos com clima, com desmatamento. Mas não é possível fazer uma previsão, saber até onde tais fatores podem influenciar.
Como ter garantia de que até agora não houve a transmissão da febre amarela em meio urbano?
Técnicos estão fazendo a captura de vetores em áreas de transmissão da doença. Tanto Aedes aegypti quanto os vetores da forma silvestre da doença estão sendo testados. Isso já ocorreu em 2007 e 2008. Na ocasião, foram examinados milhares de exemplares de vetores e não foi detectado vírus da febre amarela em vetor urbano, somente em vetor silvestre. Neste ano, todas as amostras examinadas têm detectado a febre amarela apenas em vetores silvestres.
Mas houve algum alerta para municípios atingidos?
Sim, para redução dos criadouros de Aedes aegypti. Mas isso é uma medida preventiva. A febre amarela urbana não ocorre somente pela presença do vetor urbano. Mesmo em locais onde há transmissão. Em 2008, em Goiânia, por exemplo, foi registrado um caso de paciente que residia na cidade, onde havia Aedes aegypti. Não houve transmissão urbana. Na África, onde há casos urbanos, as infestações do Aedes aegypti são em níveis muito altas. Ou seja, o ideal para dengue é um nível de infestação menor do que 1%. Mas, para febre amarela, precisaria muito mais. No mundo, nunca ocorreu com transmissão de febre urbana.