Ciclone mata e destrói no Sul

São Paulo – O ciclone Catarina, que atingiu o Sul de Santa Catarina e o Norte gaúcho entre 2 e 8h de ontem provocou rastro de destruição jamais visto na região. Ventos de até 150 quilômetros por hora e forte chuva, deixaram pelo menos dez cidades em situação desesperadora, causaram duas mortes e ferimentos em mais de 60 pessoas. Dados preliminares apontavam 100 mil casas afetadas, 500 delas destruídas.

Até as 20h de ontem, a Defesa Civil de Santa Catarina, Estado mais afetado, não havia concluído o levantamento dos estragos, porque alguns municípios permaneciam incomunicáveis, sem energia elétrica, telefones, nem acesso por estrada. “Nossa maior preocupação é prestar ajuda aos atingidos”, explicou o capitão da Defesa Civil, Márcio Luiz Alves. Nem mesmo o homem que morreu no Estado, cujo carro foi esmagado por uma árvore na Rodovia BR-101, tinha sido identificado até as 20h30. A falta de comunicação impediu calcular o número de desabrigados. A Prefeitura de Criciúma, maior cidade da região, alojou cem pessoas em um ginásio. Em Santa Catarina, 40 municípios foram atingidos pelo ciclone. A força do fenômeno foi tal que em São João do Sul e Balneário Gaivota todos os postes foram arrancados.

Destruição

Araranguá, Arroio do Silva, Balneário Rincão, Maracajá e Sombrio passaram o dia sem energia elétrica. A Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) informou ontem que demorará 72 horas para normalizar a situação. Os sistemas de telefonia fixa e móvel também foram atingidos.

As cenas de destruição se repetiram em Criciúma, Içara e Passos de Torres. Dois navios e um helicóptero procuram pelo menos 12 pescadores colhidos pelo ciclone no mar.

População fica em pânico

 

São Paulo –

Na Rodovia BR-101, o ciclone provocou filas de 35 quilômetros, que atrasaram em várias horas ônibus que saíram de São Paulo, Rio e Florianópolis em direção a Porto Alegre. “Parecia que eu estava em um filme: placas, outdoors e galhos voavam por cima do carro, árvores caíam para todos os lados. Eu só pensava que era preciso seguir em frente, que, se eu parasse, alguma coisa poderia me atingir. Vivi momentos de puro pavor.” O depoimento é de Orlando Aguiar dos Santos, gerente de Emprego e Renda do Estado de Santa Catarina, que às 2h de sábado trafegava pela rodovia rumo a Urussanga, no Sul do Estado. Logo que Santos passou, a quantidade de árvores caídas era tamanha que a principal estrada do Sul do Brasil ficou interditada. Soldados do Exército trabalharam na limpeza e conseguiram liberar o trecho entre Criciúma e Araranguá às 11h.

O deputado estadual Manoel Mota também sofreu na estrada a caminho do S ul do Estado. Ele seguia atrás do filho quando foi surpreendido por madeiras caindo diante do seu carro, obrigando-o a parar. “Meu filho já havia passado, mas eu e minha esposa não conseguimos continuar. Vivemos momento de extremo pânico.”

Devastação

Em Torres (RS), a passagem do ciclone Catarina deixou um cenário de devastação, com cerca de mil prédios e casas parcial ou totalmente destruídos, ruas cobertas de areia e de entulho e pelo menos 150 famílias desabrigadas. Houve uma morte, de Calino Teixeira Matos, de 61 anos, mas a Brigada Militar não sabia, até o final do dia, se a causa foi o temporal. Admitia, no entanto, que Matos pudesse ter sofrido mal súbito em meio ao pânico. O corpo foi encontrado a 150 metros de casa, distrito de Vila São João.

O ciclone já está enfraquecendo, mas ainda deve provocar pancadas de chuva no Sul e tempo instável, sujeito a ressaca, no litoral fluminense.

Fenômeno pode se repetir

São Paulo –

A chegada do ciclone Catarina à costa sul do País reforça a tese de que o tempo anda imprevisível. Meteorologistas, que até sábado não davam tanta importância ao fenômeno, ontem, começaram a falar em prevenção. Até porque, com base nas ocorrências climáticas anormais no resto do planeta, é possível dizer que o Brasil está sujeito a outros ciclones desse tipo.

Assim como em outros países ocorrem fenômenos naturais cada vez mais intensos, no Brasil não será diferente. “Temos de ficar alertas, já que o clima no mundo está passando por variabilidade muito intensa”, afirmou a coordenadora-geral do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Maria Assunção Saus da Silva. Segundo a especialista, existe a possibilidade de que os ciclones passem a atingir com mais freqüência o País.

Confirmação

A tese é confirmada também pelo chefe de Previsão do Tempo de Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Francisco de Assis Diniz. “É um ano anômalo. Houve estiagem no Sul, chuvas fortes no Nordeste e no Centro-Oeste, o verão frio no Rio e em São Paulo. Podemos esperar ventos que ultrapassem os 80 quilômetros por hora”, disse.

“Se ocorreu uma vez, a tendência é que volte”, disse o professor do Departamento da Geografia da Universidade de São Paulo (USP) José Bueno Conti. Segundo ele, as águas quentes da costa sul favoreceram a formação de ciclones.

O ciclone extratropical que causou estragos no litoral sul na noite de sábado e na madrugada de ontem tinha se formado havia sete dias e era acompanhado pelos institutos de meteorologia do País. “Sabíamos que passaria por uma faixa de 200 quilômetros do litoral, mas não foi possível detectar em quais lugares seria mais forte”, disse Maria Assunção.

Apesar das mortes e dos estragos, a especialista do Inpe garante que o que houve não foi um furacão.

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