Além da destruição, nove pessoas estão desaparecidas. |
Florianópolis – Após a passagem do ciclone Catarina que atingiu o sul do Brasil neste domingo, cerca de 30 cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul ainda tentam contabilizar e recuperar os prejuízos. Segundo dados da Defesa Civil dos dois estados, mais de 33 mil casas foram atingidas, deixando cerca de 800 desabrigados. Pelo menos três pessoas morreram e 58 ficaram feridas, outras nove continuam desaparecidas.
Em Santa Catarina, pelo menos 23 cidades foram atingidas pelos fortes ventos de até 150 km/h. O ciclone danificou 32.303 residências, destruindo 290. Segundo a Defesa Civil, os números tendem a subir ainda mais, pois muitos municípios ainda estão sem comunicação. Em cidades como Balneário Arroio do Silva e Sombrio, oito de cada 10 postes caíram, segundo a Defesa Civil. A previsão é que as linhas de energia e de telefone sejam restabelecidas quinta-feira.
Um dos casos mais críticos é o do município de São João do Sul, que está sem energia e, conseqüentemente sem água potável, pois o tratamento e bombeamento de água estão interrompidos. Das 11 pessoas desaparecidas nos dois naufrágios registrados em Arroio do Silva, duas foram resgatadas entre a madrugada e manhã de ontem. Os irmãos Luciano e Ricardo da Silva estavam de coletes salva-vidas e foram resgatados pela Marinha. As buscas pelos outros nove desaparecidos estão sendo feitas com helicópteros e vão até amanhã.
No Rio Grande do Sul, a Defesa Civil contabiliza um total de mil casas atingidas, 200 desabrigados e o registro de uma morte ainda não definida, provavelmente por mal súbito. No Estado, o ciclone atingiu cerca de 10 cidades do litoral norte, entre Capão da Canoa e Torres. Neste último, cerca de 5 mil pessoas continuam sem energia elétrica.
Defesa Civil diz que alertou o ministério
Brasília – A Defesa Civil disse ontem que alertou o Ministério da Integração Nacional de que, apesar de não se tratar tecnicamente de um furacão, o ciclone extratropical Catarina atingiria ventos de velocidade compatível a este tipo de fenômeno – estimadas em até 150 quilômetros por hora quando alcançasse a costa sul do País.
Apesar disso, a Defesa Civil defendeu a opção de não desocupar as cidades na rota da tempestade. O ministério informou que a desocupação fora cogitada na tarde de sábado e descartada depois que os serviços de meteorologia informaram que não se tratava de um furacão – o que faz supor que os ventos seriam menos devastadores.
“Nós informamos ao ministro que não seria necessária a evacuação de toda a população da costa”, disse o secretário nacional de Defesa Civil, coronel Jorge Pimentel. As medidas continuaram sendo tomadas: boletins da Marinha, para que as embarcações não permanecessem na área do ciclone, da Aeronáutica, para impedir a circulação de aviões, e da Defesa Civil, de meia em meia hora, para orientar a população sobre como proceder. Pimentel diz que não foi determinada evacuação em massa da população porque isso poderia causar riscos ainda maiores aos moradores da região. Ele explicou que a saída dos moradores provocaria tumulto.
Americanos avisaram que ele era furioso
Rio – O fenômeno climático Catarina provocou polêmica entre meteorologistas americanos e brasileiros. Enquanto os especialistas americanos trataram o fenômeno como um furacão, os brasileiros falaram em ciclone extratropical. O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até a noite de sábado classificava o fenômeno de “ciclone”, cuja velocidade dos ventos varia entre 60 e 70 quilômetros horários. Já o Centro Nacional de Furações dos Estados Unidos classificava o Catarina como um “furação categoria 1” (o mais fraco deles), na escala Safir Simpson. Nesse caso, a velocidade dos ventos varia entre 120 e 150 quilômetros horários (como de fato aconteceu).
De fato, o alerta e a foto de satélite transmitida no fim da tarde de sábado pelo National Oceanic and Atmospheric Administration mostrava que a proporção do fenômeno era inédita para a região sul do Brasil. Mas, no Brasil, ainda no sábado a meteorologista do Inpe Maria Assunção Dias dizia o seguinte: “Os americanos que estão acostumados a acompanhar os furacões tropicais na região do Atlântico batem o olho na imagem de satélite e acham que é um furacão. Se eles olhassem um pouco mais os detalhes, veriam que a estrutura é diferente”.