São Paulo

– A revista Isto É divulga esta semana que a Agência Central de Inteligência do governo norte-americano está atuante no Brasil, com presença na Polícia Federal e andou espionando até o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Um calhamaço de papéis e depoimentos sigilosos reunidos pela revista provam que a agência CIA continua ativa no Brasil. Desde a guerra fria, a CIA patrocinou golpes e intervenções nos quatro cantos do planeta. Brasil e Chile foram cenários de duas grandes operações: a derrubada dos presidentes João Goulart e Salvador Allende para a instalação das ditaduras militares dos generais Castelo Branco e Augusto Pinochet.

A CIA financiou políticos simpatizantes do golpe e de manifestações urbanas que usaram contra Jango o velho tema Deus, pátria, família e liberdade versus comunismo. Na atualidade, os agentes americanos atuam com desembaraço, tomam conhecimento de investigações confidenciais e têm acesso a informações de segurança nacional. A espionagem ianque recebeu as bênçãos governamentais e, comprovadamente, operou no Brasil alojada em um estratégico birô da Polícia Federal brasileira: o Centro de Dados Operacionais (CDO), hoje rebatizado de Serviço de Operações de Inteligência Policial (Soip), que tem bases em Brasília e em outras sete capitais.

A construção da sede do CDO no Distrito Federal foi bancada pelo governo americano, que também paga o aluguel dos demais escritórios. A inusitada boa vontade americana tinha como contrapartida a tolerância às xeretices da CIA no Brasil. Na mais ousada delas, o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso foi grampeado. “O equipamento usado para grampear FHC era da CIA”, revela o delegado José Roberto Benedito Pereira, peça-chave na denúncia obtida por IstoÉ sobre a atuação da agência no Brasil.

Em 1995, o CDO era chefiado pelo delegado Mário José de Oliveira Santos. Lá foi feito o grampo denunciado por IstoÉ que captou conversas entre o presidente FHC e seu assessor direto, o embaixador Júlio César Gomes dos Santos, além de diálogos sobre a licitação internacional do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). O bilionário negócio (U$ 1,4 bi) acabou com a indústria americana Raytheon. Para grampear Júlio César, o CDO recorreu a um expediente corriqueiro: a suposta ligação com o narcotráfico. O embaixador foi flagrado falando sobre o Sivam. Nada de drogas. No meio do grampo, inconfidências de FHC. Era com essas gravações que o delegado Vicente Chelotti contava para se eternizar na direção da PF. Para os amigos, dizia que tinha “o homem na mão”. Chelotti caiu porque policiais que trabalharam no caso dizem que trechos pessoais que envolveriam FHC foram apagados. Coube ao general Alberto Cardoso, da Agência Brasileira de Informação (Abin), desmascarar o blefe com a ajuda da PF.

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