O engenheiro civil Milton César Oliveira Silva, que acompanha o caso do acidente nas escavações do Metrô como perito do Ministério Público Estadual (MPE), disse que a preocupação agora é com a chuva. ?O terreno está instável. Se chover, vai ser problemático. Estão colocando lona no terreno e caminhões estão trazendo areia para que, em caso de chuva, a água vinda da rua lateral escorra para o lado e não vá para o buraco.? Segundo Silva, a chuva tornaria ?bastante possível? a ocorrência de novos deslizamentos abrindo crateras inclusive nas casas vizinhas.
Além disso, foram feitas 400 viagens de caminhão para injetar concreto e criar uma barreira em torno da cratera, reforçando os taludes. Entre a noite de sexta-feira e a madrugada de ontem, caminhões vazios eram usados para retirar terra e escombros do local.
O engenheiro Silva foi enviado ao local a pedido da Promotoria da Cidadania, que instaurou inquérito civil para apurar eventual responsabilidade de agente público no acidente. O inquérito investigará tanto o Metrô, empresa pública, quanto as construtoras que, por terem firmado contrato com o poder público, também respondem por improbidade administrativa.
O tempo ontem, em São Paulo, amanheceu com muitas nuvens e garoa. Para domingo, a expectativa é de temporais.
Buscas intensificadas
O Corpo de Bombeiros seguiu ontem cedo buscando pelos desaparecidos no deslizamento de terra no canteiro de obras da Estação Pinheiros, da Linha 4 do Metrô. O motorista da van da cooperativa Transcooper, que fazia o trajeto circular Terminal CPTM/Pinheiros (177 Y) e foi engolida pela cratera de 80 metros de diâmetro, Reinaldo Aparecido Leite, de 40 anos, e o cobrador Wercley Adriano da Silva, de 22 anos, estão desaparecidos, além de possivelmente alguns passageiros. Também está desaparecido um motorista que trabalhava na obra.
O secretário de Transporte Metropolitanos, José Luiz Portella, disse que o guindaste de 50 toneladas que corre o risco de tombar permaneceu estável durante esta noite. Portella disse também que as equipes de bombeiros irão prender o guindaste com cabos de ferros para então iniciar o desmonte do equipamento, mas não deu previsão do horário de início da operação.
Na madrugada, foram retirados dois carros da cratera e também os quatro caminhões. Os bombeiros retiraram terra do local. Um grupo de resgate também tentou acessar o acidente por um dos túneis da obra.
Testemunhas relatam acidente
São Paulo (AE) – Às 23h de sexta-feira, testemunhas do desabamento prestaram depoimento na 14.ª Delegacia de Polícia de Pinheiros. Entre elas estavam o motorista e o cobrador de um microônibus que sairia três minutos depois do coletivo que foi soterrado. ?Às 14h51, ele saiu (do ponto inicial), às 14h52 ele foi engolido. Eu estava observando quando ele sumiu na fumaça, na mesma hora chamei o motorista pelo Nextel e já deu fora de serviço?, disse Daniel Alves dos Santos, de 44 anos, motorista que presta serviços à Transcooper. ?Era para ser eu, de última hora ele trocou a vez comigo?, disse Santos, referindo-se a Reinaldo Reinaldo Aparecido Leite, 40 anos.
Das testemunhas, a que descreveu o acidente com mais riqueza de detalhes foi a segurança Fernanda Garcia, 25 anos, que estava na porta de casa, na Rua Capri, local do acidente. ?Um caminhão foi descarregar concreto, era muito grande, e o chão não agüentou. Na mesma hora, uma caçamba que estava suspensa pelo guindaste desabou e abriu uma grande cratera, levando junto o carro do meu pai, um microônibus e um monte de caminhões que estavam em volta?, disse ela, que correu para a casa em tempo de ver a parede da sala desabar.
