Chávez foi o primeiro dirigente estrangeiro a estar com Lula. |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não enfrentará uma crise política similar à da Venezuela ao implantar seus projetos de reforma social no País. A avaliação foi do próprio presidente venezuelano, Hugo Chávez, que teve ontem um café da manhã de trabalho com Lula no primeiro dia do novo governo.
Segundo Chávez, no Brasil o empresariado é “nacionalista e patriota” e tenderá a apoiar o novo projeto de desenvolvimento proposto pelo presidente brasileiro. Em seu país completou, a elite empresarial se desnacionalizou, não tem “coração venezuelano” e atua como golpista.
Situação melhor
“Lula não vai enfrentar problemas da magnitude e da natureza dos que a Venezuela vem sofrendo”, afirmou Chávez. “Lula terá a vantagem de, ao fazer as alianças com os setores da sociedade, levar adiante seu modelo de desenvolvimento e de integração com a região.”
Durante o café da manhã, Chávez tratou com Lula sobre a possibilidade de novos envios de gasolina do Brasil para a Venezuela – um dos meios de contornar a crise de abastecimento provocada pela greve na empresa estatal de petróleo, instigada pela oposição a seu governo -, caso sejam necessários. Também reiterou seu pedido para que a Petrobras envie técnicos do setor para cooperar com as reformas que pretende fazer na Petróleos de Venezuela S.A.(PDVSA).
Chávez expôs ainda a Lula sua idéia de promover uma integração energética entre os países latino-americanos, em especial na área petrolífera.
Embora tenha chamado a proposta de “empresa”, essa iniciativa prevê parcerias estratégicas para a prospecção, comercialização e desenvolvimento tecnológico entre empresas do setor.
“Parece uma idéia maravilhosa, que está ligada ao projeto bolivariano. Seria uma espécie de Opep sul-americana”, declarou Chávez, referindo-se à Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Ele acrescentou, entretanto, que esse projeto pressupõe que as empresas do setor não sejam privatizadas.
Em entrevista à imprensa que se prolongou por duas horas na Embaixada da Venezuela em Brasília, Chávez confirmou que tratou com Lula da possibilidade de criação do Grupo de Países Amigos da Venezuela – um grupo de nações disposto a atuar conjuntamente em defesa da democracia naquele país, que enfrenta turbulência social e vem sendo ameaçado por um novo golpe de Estado. Lembrou que a iniciativa de formar essa frente não partiu do Brasil, nem mesmo de Lula, mas o presidente brasileiro se mostrou disposto a cooperar. Por fim, destacou que esse apoio já demonstrado por países da Opep, da União Européia e das Américas, é a “única saída” para a crise política da Venezuela.
A aposta de Chávez em um apoio externo mais explícito ao cumprimento da Constituição venezuelana – ou seja, na realização de um referendo sobre seu governo apenas em 19 de agosto – coincide com a sua posição mais inflexível em relação às pressões e às reivindicações da oposição, que quer antecipar esse plebiscito e mesmo as eleições presidenciais. Hoje, Chávez mais uma vez chamou a oposição de “fascista”, que chega a “diminuir Adolf Hitler”.
Conforme afirmou, deixará o governo apenas se sua gestão não for aprovada no referendo. Chávez ainda minimizou o fato de a Coordenadoria Democrática, um dos dos braços oposicionistas, ter suspendido a greve geral hoje por apenas um dia – decisão interpretada como um sinal de disposição para o diálogo com o governo, que será retomado hoje.
Ele afirmou que os líderes desse movimento não têm representatividade. “Suspender a greve por um dia não faz nenhum sentido. Há um mês eles estão tentando causar problemas.”