As restrições ao funcionamento de bares e restaurantes durante praticamente todo o primeiro semestre de 2021, além do cancelamento de grandes eventos que já tinham sido reagendados de 2020, não impediram um crescimento considerável na venda de cervejas nacionais ao longo do ano passado.
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Levantamento divulgado na última semana pelo Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) aponta que as fabricantes brasileiras produziram 14,3 bilhões de litros da bebida ao longo do ano passado. Este volume é 7,7% maior na comparação com 2020.
O número é recorde no recorte dos últimos 8 anos, quando um volume semelhante foi registrado em 2014, quando a produção foi de 13,8 bilhões de litros de cerveja. Nos anos seguintes, houve uma queda até 2018 (12,2 bilhões de litros), quando o mercado começou a recuperar novamente.
O aumento se deu tanto pela reabertura do mercado no segundo semestre como na continuidade do consumo em casa nos meses antes, impulsionado pelas plataformas digitais. Por outro lado, o próprio cenário imposto pela pandemia não foi suficiente para arrefecer a fabricação da bebida, segundo Luiz Nicolaewsky, superintendente do Sindicerv.
“O avanço ocorreu em mais um ano desafiador para a indústria, marcado por um cenário econômico de alta nos juros, queda do Produto Interno Bruto, mudança no hábito dos consumidores e incertezas do rumo da pandemia de Covid-19”, diz.
Em termos monetários, o faturamento cresceu 11% na comparação com 2020, alcançando R$ 208,8 bilhões no ano passado. Segundo o Sindicerv, o segmento de cervejas premium foi um dos que mais avançaram.
Escolhas de consumo
O levantamento da entidade apontou, ainda, que as cervejas lager seguem na preferência dos brasileiros, com 91% do volume total vendido. Mas, chama a atenção o aumento no consumo da variedade sem álcool da bebida.
Segundo o Sindicerv, foram consumidos 257 milhões de litros de cervejas sem álcool, um crescimento de 30% na comparação com 2020. Isso se dá pela busca por opções mais saudáveis, um hábito do consumidor que já vem desde antes da pandemia e tomou um rumo maior durante a crise sanitária.
Para Gerson Bonilha, professor do curso de pós-graduação em Bebidas do Senac EAD, as pessoas aprenderam que não é preciso beber além da conta para ter um alto grau de satisfação.
“O interesse por bebidas fermentadas como vinhos e cervejas nacionais, de qualidade maior e em embalagens alternativas para ocasiões diferentes, continuarão tendo a preferência das pessoas”, afirma.
Das marcas brasileiras de cervejas mais consumidas, Skol e Brahma seguem na preferência dos clientes, à frente de Antarctica, Itaipava, Nova Schin e Kaiser.
No apanhado geral da indústrias brasileira, as cervejeiras fazem do Brasil o terceiro maior produtor do mundo, atrás da China e Estados Unidos, com uma participação de pouco mais de 2% do PIB.
Vendas pela internet
Entre os impulsionadores do crescimento do mercado de cervejas em 2021 está a venda pela internet, canal que foi praticamente o único canal possível desde que a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil.
O e-commerce do setor de alimentos e bebidas como um todo avançou 3,8% ao longo do ano passado, de acordo com o índice MCC-ENET, desenvolvido pela Neotrust/Movimento Compre & Confie, em parceria com o Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net).
O professor Gerson Bonilha explica que as vendas de bebidas pela internet já eram uma tendência antes da crise sanitária, mas a situação imposta à sociedade só acelerou o processo.
“Quem tinha receio de comprar virtualmente agora se acostumou e manterá o hábito. Nesse sentido, as grandes empresas têm apostado no e-commerce, como, por exemplo, Uber e a Dakki. Já o setor de bares e restaurantes perceberam que o canal foi eficiente para vender produtos como coquetéis engarrafados (RTD — Ready to drink)”, completa.
Mercado promissor
O crescimento na venda de cervejas mostra como o mercado vem crescendo principalmente de variedades diferentes das mais consumidas pelos brasileiros nos últimos anos. Se antes as pessoas tinham preferência pela pilsen do dia a dia, agora outros rótulos ganham mais espaço.
Não à toa, grandes fabricantes vêm anunciado investimentos milionários tanto em novas plantas produtivas como também de insumos para a produção da bebida.
No final do ano passado, a gigante Ambev, por exemplo, anunciou a construção da segunda fábrica de garrafas de vidro no país. Será um investimento de R$ 870 milhões no Paraná, para a produção de vasilhames reciclados para Stella Artois, Becks e Spaten.
Também em solo paranaense ficam os novos investimentos da Heineken na planta de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, com dois aportes milionários.