Uma semana após o início da operação do Exército no Rio, a pistola e os dez fuzis roubados de um quartel em São Cristóvão permanecem desaparecidos, mas o tráfico já começa a sentir os efeitos da presença dos militares nas favelas. Segundo a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a venda de drogas caiu significativamente, e há comunidade onde a redução chegou a 70%. O cerco dos soldados gerou reflexos na intensa comunicação por rádio e telefone mantida pelos criminosos. ?Os grampos estão calados?, disse ontem a titular da delegacia, Marina Magessi.
Em palestra na Associação dos Magistrados do Estado do RJ (Amaerj), Marina avaliou que o Exército, já confrontado pelos traficantes em troca de tiros no morro da Providência e em Manguinhos, deverá enfrentar uma resistência ainda maior com a proximidade do fim de semana, quando os usuários eventuais procuram as bocas-de-fumo. ?Eles vão ter problemas a partir de amanhã ?, disse, citando como exemplo o caso da Mangueira. ?Os traficantes da Mangueira são hoje os grandes milionários, porque a zona sul é Mangueira. Eles adoram freqüentar a quadra, as bocas de lá?, disse a policial, considerando que o movimento já sofreu um baque de 70% desde o início da intervenção do Exército.
O tráfico é sustentado, prioritariamente, pelo usuário de fim de semana. ?O viciado não sustenta boca. Eles são minoria. Traficante gosta é de usuário de quinta a domingo?, acrescentou dizendo que ?a classe média sempre cheirou cocaína?. Perguntada sobre a possibilidade de a Polícia Civil ter localizado o armamento roubado e estar apenas aguardando que o Exército desista da operação para resgatá-lo, Marina classificou a hipótese de ?absurda?. Disse, porém, que acha ?muito difícil?, os soldados encontrarem os fuzis e a pistola. ?Não acredito que elas estejam em um lugar só. Já devem ter sido distribuídas e enterradas, pois ninguém é doido de andar com elas por aí?, afirmou.
Na polícia, há, porém, quem pense diferente, apostando numa solução mais rápida para o roubo do armamento. Uma fonte da área de inteligência levantou a hipótese de que, até o domingo, ?surjam boas notícias?.
?As informações que estamos levantamos são esparsas. Eles não estão se falando muito pelos aparelhos de comunicação. Mas talvez as armas sejam devolvidas logo?, aventou o investigador, que pediu anonimato. Ele acredita que o material vai ser encontrado porque os prejuízos causados pelas ações de abafa do Exército são muito grandes.
