Os presidentes das principais centrais sindicais do País deverão apresentar amanhã (26) ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, suas reivindicações para a área do trabalho. Todos deverão defender a retomada do desenvolvimento econômico, reformas nos sistemas previdenciário e tributário e a modernização das leis trabalhistas. Também deverá ser unânime a defesa de um fórum de discussão para a definição dessas reformas. Embora concordem com a direção, os líderes sindicais divergem sobre a forma e a prioridade das reformas.
Um exemplo é a redução da jornada de trabalho, proposta recentemente pela equipe de transição do governo Lula. As posições diante do assunto variam desde a da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que apóia a idéia do jeito que está, à da Social Democracia Sindical (SDS), que acha a idéia absurda.
Apesar das diferenças, o encontro é considerado histórico. O presidente da CUT, João Antonio Felício, lembra: “É a primeira vez que um presidente se reúne com representantes dos sindicatos antes de tomar posse.” Ele também acredita que Lula anuncie amanhã as linhas básicas do relacionamento que deverá ter com o sindicalismo em seu governo.
O fato de Lula ter vindo da área sindical alimenta as expectativas em torno do encontro. Mesmo para o presidente da SDS, Enilson Simões Moura, o Alemão, inimigo histórico do PT e de seus braços no meio sindical, a origem sindical do presidente pode facilitar o entendimento. “Não espero muito, mas acho que é uma outra perspectiva.”
Amistoso
O encontro deverá ser amistoso. A CUT, a maior central do País, já foi presidida por Lula e é vinculada ao PT. De acordo com um levantamento parcial divulgado pelo IBGE no mês, reúne 66% do total de sindicatos do País filiados a centrais.
A Força Sindical, presidida por Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que foi candidato a vice-presidente na chapa Ciro Gomes (PPS), vê o governo de Lula com moderada simpatia. A Força ainda segundo o IBGE, reúne 19% dos sindicatos filiados a centrais.
A SDS congrega 7% dos sindicatos. A menor de todas é a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), que nem chegou a figurar no levantamento do IBGE.
Acordo
As duas maiores forças, CUT e Força, concordam que Lula deveria investir suas forças desde o início do governo em três grandes reformas: a tributária e fiscal, a previdenciária e a da legislação trabalhista. Os presidentes das duas centrais têm afirmado que não se pode discutir mudanças na jornada de trabalho sem falar de reforma tributária. Segundo Felício, as prováveis perdas dos empresários seriam recuperadas com mudanças nos impostos.
Para Paulinho, da Força, a reforma tributária também daria um impulso inicial ao crescimento econômico, maior desejo de todas as lideranças. “É preciso reduzir o nível dos impostos sobre o setor produtivo”, afirma.
Em relação à Previdência, a CUT e a Força defendem a mesma proposta do governo, de um sistema único, que abrangeria empregados dos setores privado e público. “O atual sistema previdenciário, que garante aposentadorias suculentas para uma minoria, é perverso, pois ajuda a concentrar a renda no País”, diz o presidente da CUT, entidade que congrega boa parte dos sindicatos de funcionários públicos – o setor que mais cresceu no sindicalismo brasileiro desde a Constituição de 1988, segundo o levantamento do IBGE.
Num documento que será entregue amanhã no encontro com Lula, no Hotel Hilton, em São Paulo, os representantes da Força Sindical afirmam que a necessidade da reforma previdenciária é premente.
A CUT e a Força têm divergências, porém, quanto aos detalhes da reforma. Mas as maiores diferenças entre as centrais aparecem quando se trata de questões sindicais e trabalhistas. A CUT defende o fim do imposto sindical obrigatório, descontado de todos os trabalhadores, uma vez por ano. Quer que os trabalhadores se filiem e paguem mensalidades sindicais espontaneamente. A Força e a CGT querem mecanismos oficiais que ajudem a manter os sindicatos. A SDS quer que o imposto obrigatório seja abolido gradativamente.