Na tentativa de fornecer aos pacientes da covid-19 um “exército” de anticorpos mais preparados para combater o Sars-CoV-2, pesquisadores brasileiros desenvolveram um soro a partir do plasma de cavalos. As informações são da Agência Fapesp.
A pesquisa mais recente, conduzida pelo Instituto Butantan, será avaliada pela Anvisa para que a agência regulatória autorize os testes clínicos com o soro em seres humanos. A expectativa é que a resposta seja dada ainda nesta sexta-feira (5).
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Para a produção do soro, os animais recebem o coronavírus inteiro, porém inativado por radiação. Assim, incapaz de gerar a doença. Uma vez em contato com o vírus, os cavalos produzem anticorpos que o reconhecem e aprendem a combatê-lo.
Esses anticorpos produzidos e circulando no plasma sanguíneo dos cavalos são, então, extraídos e passam por diferentes processamentos de purificação e de controle de qualidade. O produto que chega aos seres humanos é composto apenas de anticorpos que vão reconhecer mais rapidamente o Sars-CoV-2, impedindo a replicação no organismo dos pacientes.
De acordo com Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora de inovação do Butantan e responsável pelo desenvolvimento do soro, a expectativa é que a estratégia seja eficiente inclusive contra as variantes.
“Antes de injetar o vírus em animais, nós constatamos que, mesmo inativado, a sua composição proteica estava mantida, ou seja, todas as proteínas conhecidas como importantes para gerar resposta imune estavam preservadas. Assim, obteve-se um produto policlonal, em que há uma gama de anticorpos contra diferentes epítopos das proteínas virais. Espera-se que essa estratégia seja eficiente em reconhecer o vírus de forma mais abrangente do que, por exemplo, anticorpos dirigidos para apenas uma porção restrita de uma proteína. Isso pode ser uma vantagem no combate às novas variantes do vírus”.
3 mil frascos
De acordo com Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, estão prontos 3 mil frascos do plasma para os testes clínicos, e outros 3 mil estão prontos para serem envasados.
“Submetemos à Anvisa um dossiê de desenvolvimento clínico desse produto e devemos receber ainda hoje as observações da agência em relação a esse pedido. Estamos aguardando para começar um estudo clínico com pacientes transplantados de rim, com doutor José Osmar Medina, no Hospital do Rim, e pacientes com comorbidade, com o doutor Esper Kallás, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo”, disse o diretor, em coletiva realizada nesta sexta-feira, e divulgada pela Agência Fapesp.