Os gastos feitos com cartões corporativos mostram que ao menos cinco ministros e ex-ministros privilegiaram viagens financiadas pelos cofres públicos a seus Estados de origem, onde mantêm laços político-partidários e familiares, em especial nos finais de semana. É o caso dos ministros da Pesca, Altemir Gregolin, e da Agricultura, Reinhold Stephanes, e dos ex-ministros Olívio Dutra (Cidades), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e José Fritsch (antecessor de Gregolin).
Os dados constam de levantamento feito pelo sub-relator de sistematização da CPI dos Cartões mista, Carlos Sampaio (PSDB-SP), sobre gastos discriminados por fim de semana com cartões.
Despesas com viagens são cobertas pelo erário quando são motivadas pelo trabalho. Caso o ministro esteja em agenda oficial, não há restrição à data ou ao destino. Mas, para Sampaio, a coincidência precisa ser investigada. ?É algo anormal?, diz ele. É comum que ministros retornem às suas bases eleitorais ou fiquem com suas famílias nos finais de semana, mas sem custo extra para o Tesouro. ?É preciso verificar se não está havendo adaptação da agenda oficial a eventuais interesses pessoais ou políticos", avalia Sampaio.
De acordo com o banco de dados do deputado, em 14 dos 33 finais de semana em que pagou despesas com o cartão fornecido pelo governo, o ex-ministro da Pesca José Fritsch (PT) estava em cidades de Santa Catarina, seu Estado natal. Fritsch comandou a pasta de janeiro de 2003 a março de 2006. Seu sucessor, Altemir Gregolin (PT-SC), mostra perfil semelhante: em 11 finais de semana, há gastos em estabelecimentos de Florianópolis, Criciúma e Chapecó. Em outros 18 finais de semana, os gastos foram feitos no comércio de outros Estados, como Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Maranhão.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, pagou despesas com o cartão corporativo em apenas sete finais de semana desde que assumiu o ministério, em março de 2007. Mas em todos os casos o ministro estava em Curitiba ou Londrina, cidades do Paraná, seu Estado de origem. No cartão oficial de Stephanes, não há registro de despesas em sábados e domingos em outros lugares do País.
Dias úteis
O ex-ministro das Cidades Olívio Dutra também concentra despesas com cartão no Rio Grande do Sul, Estado que já governou. Nesse caso, os gastos feitos também se estendem a dias úteis. Em seis finais de semana há despesas em cidades gaúchas como Caxias do Sul, São Borja e Cachoeirinha, além de Porto Alegre. Em outros cinco finais de semana, despesas foram feitas em Teresina, Maceió, Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus. Em dias úteis, o petista, que ocupou o cargo de janeiro de 2003 a julho de 2005, foi a cidades do Rio Grande do Sul em pelo menos outras 12 datas.
No caso do ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto, também do PT do Rio Grande do Sul, há gastos em Porto Alegre em cinco finais de semana. Em outros nove casos, as despesas foram realizadas em outros Estados. Rossetto fez pelo menos mais dez viagens ao Rio Grande do Sul usando ao cartão durante a semana.
Já a ex-ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, computou gastos com o cartão de pagamento do governo em estabelecimentos em São Paulo em pelo menos 24 finais de semana, onde ela construiu sua liderança no movimento negro. Em outros 27 finais de semana, as despesas foram pagas em estabelecimentos de outras partes do País.
Ministros negam uso indevido de cartões em viagens
A assessoria da Secretaria Especial da Pesca informou que Santa Catarina é o maior Estado produtor de pescados do Brasil, possui o maior pólo industrial pesqueiro e 90% da maricultura do País. ?Portanto, justifica-se uma presença intensiva da secretaria no Estado.? A secretaria disse ainda, por nota, que as viagens indicadas pelo levantamento da CPI dos Cartões foram oficiais e que o ministro estava em serviço no momento dos gastos
A assessoria do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, informou que todos os dados que envolvem o assunto foram repassados à Controladoria Geral da União, que acatou os argumentos do ministério. Segundo a assessoria, o gastos referem-se a agendas oficias e foram feitos por funcionários que acompanhavam o ministro. Segundo o ministério, Stephanes fica em sua casa quando vai a Curitiba. A reportagem procurou assessores dos ex-ministros Olívio Dutra, José Fritsch e Miguel Rossetto em busca de explicações sobre os gastos, mas não houve resposta.
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