Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil |
Carla Cicco, ex-presidente da Brasil Telecom, depõe na CPMI. continua após a publicidade |
Em depoimento de quase seis horas à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, a ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cicco confirmou ontem que contratou a empresa Kroll para investigar a Telecom Itália. Segundo Carla, a Brasil Telecom pagou, em média, US$ 250 mil (R$ 552 mil, em valores atuais) por mês à Kroll, com o objetivo de ?proteger os interesses de seus investidores? nas negociações para operar com telefonia celular e de longa distância. ?A Telecom Itália queria impedir isso?, afirmou ela, que foi consultora da Telecom Itália na década de 90.
Carla Cicco disse que a Brasil Telecom pretendia entrar com um processo nos Estados Unidos ou na Itália contra a Telecom Itália e que as investigações feitas pela Kroll serviriam para subsidiar a ação na Justiça. No depoimento, Carla afirmou que o relatório da Kroll não fez qualquer referência a contas no exterior de políticos ou partidos.
Carla confirmou, porém, que teve acesso a informações sobre uma reunião em Portugal de dirigentes da Telecom Itália, da qual participou o ex-presidente do Banco do Brasil (BB) Cássio Casseb. ?O relacionamento de Cássio Casseb com a Telecom Itália era antigo, uma vez que ele foi representante da empresa no Conselho de Administração da Brasil Telecom. O encontro dele com dirigentes em Portugal pode ter sido só uma coincidência?, observou.
No depoimento, Carla informou que a Brasil Telecom pagou R$ 4,479 milhões para as agências de publicidade DNA Propaganda e SMP&B, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, entre 2003 e 2005. Ela disse que o pagamento foi feito por serviços de publicidade e que só este ano foram gastos R$ 188 mil com uma campanha da banda larga da empresa. ?A Brasil Telecom gastou 1,5% de sua receita líquida em propaganda durante o ano de 2004. Isso representou R$ 134 milhões?, afirmou. A ex-presidente da Brasil Telecom afirmou ainda que a concessionária não comprou as ações da Gamecorp porque não eram um bom negócio sob o ponto de vista comercial. A Gamecorp é de Fábio Luiz Lula da Silva, filho de presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e teve parte das ações comprada este ano pela Telemar por cerca de R$ 5 milhões.
Assim como o banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, que administrava a Brasil Telecom, Carla afirmou que a Brasil Telecom comprou a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) com sobrepreço. Observou, no entanto, que não tem provas para afirmar que os fundos de pensão pressionaram a Brasil Telecom a comprar a CRT por US$ 800 milhões (R$ 1,77 bilhão, em valores atuais), que, segundo ela, é um preço superfaturado. ?Não tenho provas de que os fundos de pensão tenham dado respaldo para que a CRT fosse comprada por esse preço?, disse Carla.
Ela criticou ainda a interferência do governo na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Na avaliação de Carla, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) passou a adotar critérios ?cada vez menos técnicos? depois da saída de Renato Guerreiro do comando da agência reguladora, no início de 2002. Carla foi demitida da Brasil Telecom em 30 de setembro, ocasião em que a concessionária de telefonia deixou de ser administrada pelo Opportunity, de Dantas. ?A minha percepção é que a Anatel agiu várias vezes contra o interesse da Brasil Telecom. É o caso do processo de universalização da empresa. A Anatel tomava decisões segundo as regras estabelecidas até o momento que Renato Guerreiro ficou na presidência da agência. A partir da saída dele, comecei a sentir que cada vez mais a Anatel virava menos técnica?, afirmou Carla.