São Paulo
– O Carandiru, maior presídio da América Latina, está sendo desativado hoje. Ontem foi o último dia de visitas na mais famosa Casa de Detenção de São Paulo. A manhã de ontem, no Carandiru, foi bastante tranqüila, de um jeito que não se via há pelo menos 46 anos. Das dez cabines que são utilizadas para revista, apenas uma, a de número dois, foi utilizada e poucas senhas foram distribuídas. Cerca de 40 parentes foram ao local para o último dia de visitas. Os últimos 76 presos serão transferidos para outros presídios no interior do Estado. Os parentes que foram à Casa de Detenção na manhã de ontem reclamaram muito da transferência e da desativação do Carandiru.O clima combinou com a despedida: céu cinzento e chuva fina. Os pavilhões do Carandiru já abrigaram quase oito mil detentos. Na porta do Carandiru, uma imagem rara: dia de visita sem fila. Na calçada, poucos eram os ambulantes. Nos fins de semana, José Carlos dos Santos chegava a faturar R$ 200,00 na frente da Casa de Detenção. “Pra gente, que trabalhava aqui, que era um meio de ganhar algum dinheiro, ficou difícil, né?”, disse José. A maioria dos parentes preferiu o silêncio. Quem se dispôs a falar reclamou das transferências. “Vai ser ainda mais difícil. Fazer o quê? A gente tem que estar lado a lado com eles”, disse Sandra da Silva, parente de preso.
A história do Carandiru termina exatamente às 9h da manhã deste domingo, quando partirá o último ?bonde? – em outras palavras, quando os presos são transferidos – deixa o local. Mas nem todo o Complexo do Carandiru, que fica na Zona Norte de São Paulo, será desativado. A Penitenciária do Estado, a Penitenciária Feminina e o Hospital dos Presos – que abrigam 3.200 detentos – continuarão funcionando.
A obra de demolição já começa nesta segunda-feira. O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, até levou a família para visitar o presídio ontem. “Minha mulher e meus filhos ainda não conheciam a Casa de Detenção. Amanhã, 15 de setembro, será um dia com muita movimentação. Eu achei melhor trazer hoje para que eles conheçam com mais tranqüilidade”, disse Furukawa, ontem. Por questões de segurança, não se diz de antemão para onde cada preso será levado. Logo que as transferências estiverem concluídas as famílias terão a informação.