Abandonado, o canteiro de obra do primeiro túnel exclusivo para ônibus em São Paulo, projetado para interligar o futuro corredor da Radial Leste ao Terminal Parque D. Pedro II, no centro, foi ocupado por usuários de crack que consomem droga à luz do dia e transformaram o terreno em uma “minicracolândia”. Pelas frestas dos tapumes, que cobrem o espaço sob viadutos na Mooca, é possível ver o grupo com aproximadamente 30 pessoas fumando.
Eles entram e saem com cachimbos na mão por “portas” improvisadas nas placas de madeira. Moradores e comerciantes reclamam do aumento do número de assaltos com faca, que seriam cometidos pelos usuários de droga. A Prefeitura alega que a obra foi paralisada por recomendação do Tribunal de Contas da União e a Secretaria da Segurança Pública informa que a polícia faz operações na área.
A reportagem tentou entrar no local na quinta-feira, 28, e conversou com uma dependente química que mora no canteiro. “Um monte de gente vive aqui, mas não é imprensa que tem de vir. É a polícia. O meu ex-namorado, que está lá dentro, tentou me matar. Ele tem dois facões”, disse ela, mostrando uma cicatriz na barriga.
Morador de um prédio a poucos metros da área, o comerciante Valdomiro de Freitas, de 50 anos, disse que são comuns brigas entre casais de dependentes químicos no meio dos carros em movimento na Avenida do Estado.
“Isso aqui virou um inferno depois que essa obra parou”, disse Freitas. Ele percebeu que aumentou a insegurança no local e que se tornaram frequentes os assaltos, principalmente à noite, perto do metrô e sob os Viadutos Diário Popular e Antônio Kashima. Freitas passou a buscar a filha na estação de metrô nos últimos meses. “Mulher é alvo fácil.”
Freitas explicou como têm acontecido as abordagens: “Os usuários de droga chegam com a faca e levam tudo. A minha loja tem pelo menos quatro carteiras de motoristas, porque os ‘noias’ roubam e jogam os documentos aqui na calçada”, disse.
Todo dia
A filha do porteiro Manoel Rocha, de 59 anos, também morador da área, foi assaltada há um mês no cruzamento das Ruas Visconde de Parnaíba e Figueira. Na abordagem, com arma branca, roubaram o celular, contou Rocha. “É perigoso. E é todo dia e toda hora”, disse.
Também comerciante da região, Francisco Ferreira, de 79 anos, disse que à noite os assaltos costumam acontecer com mais frequência. “Como a obra parou, eles se apossaram do lugar e começaram a roubar. Já roubaram até placas e tapumes para vender e comprar droga”, disse. Segundo ele, há cerca de um ano foram retiradas as máquinas e a obra parou por completo. “Sempre teve assalto aqui e acolá, mas agora está pior. Eles assaltam e correm para debaixo do viaduto.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.