A troca de ideias entre pré-vestibulandos, antes restrita aos corredores de cursinho, ganhou um novo espaço. Além da sala de aula e do quarto de estudos, candidatos agora ocupam o YouTube e são vistos por milhares de seguidores interessados em dicas e informações sobre os principais processos seletivos do País.
“O canal é uma válvula de escape. Um vestibulando consegue transmitir para o outro a realidade de estudo de forma mais verídica”, conta Caroline Araújo, de 22 anos, que tem uma página no YouTube com mais de 18 mil seguidores.
Candidata ao curso de Medicina, ela faz vídeos sobre como organizar o tempo, com dicas para estudar sozinho e desabafos sobre as dificuldades de tentar uma carreira tão concorrida. “Já falei até do término de um relacionamento. Me perguntavam sobre como lidar com o fim de um namoro durante o vestibular”.
Seguidor de Caroline e de outros “pré-vestibulandos youtubers” nas redes, Rafael França, de 19 anos, aprovado pelo Enem na Universidade Federal do Mato Grosso, acredita que os vídeos trazem informações que só quem está na mesma situação pode oferecer. “Estava em dúvida sobre usar caderno ou fichário. O canal dela foi um dos únicos que respondia a minha pergunta. No cursinho, ninguém fala sobre isso”.
Apaixonado pelo YouTube, França conta que o desafio dos candidatos é saber dosar a quantidade de vídeos para não perder o foco. “Parei de assistir aqueles que não estavam relacionados a estudo”, diz. No caso dos pré-vestibulandos que têm canais, a tentação é largar os livros para ver as notificações e mensagens dos seguidores.
Eu publico e logo excluo o aplicativo do celular para não ficar na expectativa de entrar e olhar”, explica Leylanne Naubarth, de 21 anos, que concilia os estudos para Medicina com um canal no YouTube, uma conta no Instagram e um blog – todos sobre preparação para o vestibular.
Enquanto estudava sozinha, a falta de colegas para conversar foi um dos fatores que motivou Leylanne a participar das redes sociais. As postagens fazem parte do que a estudante batizou de “Projeto Médica Diva”. “O objetivo é mostrar que dá para conciliar estudo com uma vida saudável”, defende Leylanne, que também usa o espaço na internet para falar sobre exercícios físicos, beleza e alimentação.
Exposição
Ao contrário de grande parte dos candidatos, que prefere ficar no anonimato para evitar pressões e comparações com os colegas, os “pré-vestibulandos youtubers” expõem na internet detalhes da preparação para as provas, como notas nos exames, conquistas e fracassos no estudo. “A gente fica bastante exposto e muitas pessoas fazem críticas. Mas os próprios seguidores respondem por mim, me defendem”, diz Leylanne.
Para Débora Aladim, de 18 anos, que tem um canal com informações sobre a preparação para o Enem e resumos de História, a exposição na internet teve até um efeito positivo. “Como eu dava dicas para as pessoas, também tinha que segui-las”, conta a estudante, aprovada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A página de Débora no YouTube foi criada quase por acidente. “Fazia resumos escritos de História e enviava para meus amigos. No ensino médio, fiquei sem computador e não podia digitar. Aí eles me pediram para fazer um resumo filmado”. Hoje, o canal tem mais de 120 mil seguidores.
As “videoaulas”, que já abordaram temas como a Revolução Francesa e a Crise de 1929, ajudaram até a confirmar a preferência da estudante pela carreira de professora. “Sempre quis cursar História, mas, antes de fazer os vídeos, não sabia que era boa em ensinar. Minha família não aceitava muito minha escolha. Quando viram o sucesso que o canal fazia, perceberam que eu poderia me dar bem nisso”, diz ela, que está no primeiro semestre de Licenciatura na área.