Câmara e Senado prometem punir envolvidos no esquema sanguessuga

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) vai examinar neste fim de semana os documentos relativos às investigações da Polícia Federal, na operação conhecida como Sanguessuga, para anunciar as medidas que tomará com relação aos citados. ?As denúncias são muito graves, porque a Câmara tem o papel constitucional de fiscalizar os recursos públicos. E quando funcionários da Casa e até parlamentares são envolvidos nesse tipo de denúncia, é evidente que a Câmara tem de adotar uma providência rigorosa, tanto em relação ao funcionário, quanto em relação aos parlamentares envolvidos nas ilicitudes?, afirmou Rebelo, em declaração feita no Paraguai e transmitida por sua assessoria.

Rebelo chegará hoje, em São Paulo, onde deverá conversar com assessores jurídicos, pessoalmente ou por telefone, e decidir os procedimentos que serão adotados. A Polícia Federal informou o presidente da Câmara, na noite de quarta-feira, que faria prisões de assessores da Casa. Na Operação Sanguessuga prendeu 47 pessoas, incluindo dois ex-deputados: Ronivon Santiago (PP-AC) e Carlos Rodrigues (PL-RJ). Na documentação entregue pela PF à Câmara, que corre em segredo de Justiça, estão citados vários deputados, mas a PF não sabe ainda o nível de envolvimento deles na fraude de compra de ambulâncias superfaturadas com recursos do orçamento da União. Os deputados e senadores têm foro privilegiado e só podem ser processados pelo Supremo Tribunal Federal.

Senado

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), admitiu a possibilidade de o Conselho de Ética e a Corregedoria do Senado investigarem os parlamentares envolvidos na Operação Sanguessuga, da Polícia Federal, que prendeu mais de 46 pessoas, incluindo assessores da Câmara e do Senado, acusados de fraudar a compra de ambulâncias superfaturadas com recursos do Orçamento da União. ?Se já houver conclusão que possibilite a ida para a Corregedoria e o Conselho de Ética e se for necessário fazer, vamos fazer. Isso é quase que automático, desde que haja esclarecimento, que haja conclusão. Eu não tive ainda acesso ao material para verificar o que é necessário fazer neste momento?, afirmou.

Perguntado se era o caso de abrir uma CPI, Renan disse que o assunto está sendo investigado por canais competentes, como o Ministério Publico e a Polícia Federal. ?É importante que haja esclarecimento definitivamente dos canais convencionais para que as pessoas possam encaminhar as providências que a sociedade cobra. Tudo o que precisar ser feito para esclarecer vamos fazer?, afirmou.

Empresário propôs matar jornalista

Brasília (AE) – O delegado Tardelli Boaventura, que preside os 140 inquéritos abertos para apurar fraude na compra de ambulâncias e material hospitalar por parte de uma quadrilha espalhada por todo o País, negou ontem (5) que tenha sido negligente ao ouvir, numa escuta telefônica, que dois dos investigados falavam em matar um jornalista do Correio Braziliense que estava em Rondônia atrás do esquema de desvio de dinheiro. ?Quando soube que havia essa conversa, fui imediatamente à sala onde era feita a escuta. Escutei toda a conversa. Depois, nada mais foi dito. Percebi que a conversa era em tom de brincadeira.?

No diálogo gravado com autorização judicial, o empresário Luiz Antônio Trevizan Vedoin acerta com Francisco Machado Filho, o Chico, assessor do deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), a morte do jornalista. ?E o jornalista, deu as caras ou não??, pergunta Luiz Antonio. ?Ele me falou… ele falou que… que… que tava, que tava lá, que ele tinha chegado lá em Rondônia, né??, responde Chico. ?E procurou alguém, fez alguma coisa??, indaga Luiz Antônio. ?Não procurou ninguém não. Procurou ninguém não?, diz Chico. ?Podia arrumar um jeito de mandar matar o cara lá, o que cê acha??, diz Luiz Antônio. Resposta: ?Eu também acho que é uma boa.?

PF fecha fronteiras e aeroportos

Brasília (AE) – A Polícia Federal vai vigiar a partir de hoje, as fronteiras e os aeroportos, na tentativa de impedir a fuga para o exterior das sete pessoas que ainda não foram detidas e que estão com a prisão provisória decretada por envolvimento com a fraude milionária na compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares com dinheiro do Orçamento da União. Já foram presas 47. ?Espero que elas se entreguem, porque a partir de amanhã serão consideradas foragidas e pediremos a prisão preventiva, o que é bem mais complicado para o envolvido?, disse o delegado Tardelli Boaventura, da Polícia Federal de Cuiabá, que preside os 140 inquéritos abertos na Operação Sanguessuga.

O delegado informou que todos os presos serão levados para Cuiabá. E novas prisões poderão ser pedidas porque as pessoas detidas estão revelando detalhes novos nos depoimentos. Além disso, a PF está oferecendo o benefício da delação premiada, o que atenua a pena. ?Quem quiser pode passar para o programa de proteção de testemunha?, afirmou Boaventura. Ontem à tarde, entregou-se à PF de Brasília Suelene Almeida Bezerra, assessora do deputado Reginaldo Germano (PP-BA), especializada em orçamento.

O delegado Boaventura disse que há uma semana recebeu determinação do juiz Jefferson Schneider, da 2.ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso, para que separasse todo o material das investigações onde fossem citados parlamentares. ?Eu usei a palavra-chave deputado e então fiz a separação. Tudo o que havia lá foi retirado para ser enviado às Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República.? Ao todo, os diálogos que se referem a algum parlamentar foram resumidos em 200 páginas.

Por causa da suspeita que pesa sobre os parlamentares, o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, terá de decidir em breve, se pede ou não a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar o suposto envolvimento de congressistas em fraudes para compra de ambulâncias e material médico hospitalar. Há também a suspeita de que a quadrilha estava agora negociando equipamentos para o programa de Inclusão Digital do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Lista com emendas será revelada

Brasília (AE) – O presidente da Comissão Mista de Orçamento da Câmara, Gilmar Machado (PT-MG), vai divulgar na terça-feira a lista com todos os deputados e os senadores que apresentaram emendas individuais ou de bancada ao Orçamento para a compra de ambulâncias.

O levantamento, que está sendo preparado pela comissão, também será encaminhado ao Ministério Público e à Polícia Federal como contribuição às investigações da ?Operação Sanguessuga?, que já resultou na prisão de 47 pessoas incluindo ex-deputados, assessores parlamentares, empresários e funcionários do governo federal.

Além da lista, Machado colocou à disposição do Ministério Público e da PF uma senha de acesso ao sistema que permite o acompanhamento da execução orçamentária, o Siafi. ?Não temos motivo para evitar a transparência?, afirmou Machado.

O deputado, que assumiu a presidência da Comissão no dia 18 de abril passado, já estava montando um núcleo para acompanhar a execução do Orçamento e tentar detectar eventual participação de servidores públicos na intermediação de liberação dos recursos.

Na mesma linha de tornar mais transparente a execução orçamentária, Machado já havia anunciado a abertura do Siafi para três entidades da sociedade e da imprensa, que tenham interesse em acompanhar dados detalhados da liberação de recursos do Orçamento pelo governo federal.

CGU ajuda Operação Sanguessuga

Brasília (ABr) – Três auditores da Controladoria-Geral da União estão em Cuiabá (MT) para ajudar a Polícia Federal na análise de documentos apreendidos na Operação Sanguessuga. Deflagrada quinta-feira, a operação prendeu 47 pessoas envolvidas em fraudes nas licitações para a compra de ambulâncias em municípios do Mato Grosso. Entre os envolvidos estão dois ex-deputados e onze assessores parlamentares.

O controlador-geral da União, Jorge Hage, explicou que os auditores vão trabalhar nos documentos durante quinze dias, prazo final para o inquérito dos indiciados. As conclusões serão incluídas no inquérito e a controladoria irá produzir relatório, a ser encaminhado ao Ministério da Saúde, órgão responsável pela compra das ambulâncias. ?Estamos atendendo ao pedido feito pelo delegado da Polícia Federal e enviamos para Cuiabá alguns analistas para, não só ajudar na identificação da documentação que foi apreendida com essas buscas e apreensões, como também na análise dessa documentação. É nessa etapa que estamos trabalhando em conjunto com a Polícia Federal?, afirmou Hage.

A operação sanguessuga abriu mais de 140 inquéritos sobre 76 municípios, envolvendo mais de mil ambulâncias, que custavam em média R$ 100 mil. A quadrilha atuava em três frentes: junto às prefeituras para fraudar licitações, no Congresso Nacional para elaborar emendas parlamentares e no próprio Ministério da Saúde para liberação de recursos.

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