Aquela antiga configuração do homem experiente que se casa com uma mulher mais jovem começou a mudar no Brasil, ainda que lentamente. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (7) (véspera do Dia Internacional da Mulher), entre 1996 e 2006, aumentou em 36% o número de mulheres que se unem a homens mais jovens: os arranjos familiares desse tipo passaram de 5,6 milhões para 7,6 milhões. O inverso ainda é mais comum, mas cresceu menos no período – de 22,3 milhões para 27,9 milhões, ou 25,3%.
As mudanças culturais vividas nas últimas décadas, a independência financeira feminina, com a inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, e até a maior longevidade são alguns dos fatores que explicam o aumento desse tipo de casamento. A avaliação é do psicanalista Theodor Lowenkron, professor-associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"As mulheres passaram a ser mais independentes e isso se refletiu na capacidade de escolha de seus parceiros. Além disso, a sociedade é cada vez menos machista", afirmou acreditar. "Outro aspecto importante é a influência da reação da mulher frente ao seu envelhecimento. Elas passaram a poder usufruir da juventude do parceiro."
Quando se analisam as diferenças de idade, verifica-se que é mais usual encontrar homens bem mais velhos que as companheiras do que o contrário. Quando elas são as mais experientes, a diferença é inferior a cinco anos em 64,7% dos casos; na situação inversa, fica em quatro anos em 45,8% das famílias e entre cinco e nove anos em 34,4% delas.
Segundo a pesquisa, nos matrimônios em que a mulher tem idade superior e é chefe da família, o rendimento dela é maior do que o do companheiro; quando assume posição de cônjuge, tem renda menor.
"Esses dados revelam novas práticas e sinalizam que padrões tradicionais de ‘conjugalidade’, com o homem provedor, mais velho e detentor de poder, vêm sendo erodidos e colocados em questão", avalia a socióloga Ana Liési Thurler, professora da Universidade de Brasília (UnB). Ana avista no horizonte uma espécie de "refundação da ‘conjugalidade’". "Nesses casos (em que a mulher é mais velha), há uma possibilidade real de renegociação e redistribuição de poder no interior do casal.