Os caçadores que mataram a tiros uma onça-pintada e gravaram um vídeo em que se vangloriam do feito, exibindo o animal como um troféu, alegaram à Polícia Civil de Juquiá, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, que agiram em legítima defesa. Os acusados, Jorge Paulo Cabral de Lima e William Martins Cardoso, se apresentaram nesta quarta-feira, 15, na companhia de um menor que também esteve na mata. A onça-pintada, maior felino das Américas, ameaçado de extinção, foi morta na Fazenda São Judas, área particular, invadida pelos caçadores.
Na versão deles, a onça foi acuada por cachorros e precisaram matá-la para que não os atacasse. Eles negaram que estivessem caçando, embora no vídeo William tivesse dito que foram à mata “buscar uma paquinha”. De acordo com o delegado Eduardo Gregório, os homens disseram que não são caçadores e tinham ido à mata cortar madeira para fazer cabo de enxada, quando se depararam com os cachorros acuando a onça. “É uma versão mentirosa. Com certeza eles não foram caçar onça, mas outros animais menores, como paca e cateto, e se depararam com o felino. Aí, atiraram no animal.”
No vídeo gravado por eles e enviado para amigos pelo aplicativo WhatsApp, um deles confessa a caçada e conta como a onça foi morta. “Vocês dizem que aqui não tem onça? Olha o tamanho desse bicho! Saí para buscar uma paquinha e olha o tamanho disso.” O narrador diz que a onça foi morta com dois tiros e mostra as armas usadas. “Ela largou dos cachorros e estava investindo em nós. Dei um tiro de 12 na cara dela e o Jorge atirou no pescoço com a 24. Os dois tiros falaram juntos.” O caçador exibe as presas e as patas da pintada e continua se vangloriando. “Olha o dente desse capeta, olha o tamanho da patola!”
O delegado informou ter feito um termo circunstanciado – registro de crimes de baixo potencial ofensivo – e vai enviar para a Justiça. O vídeo foi anexado ao inquérito. “É crime ambiental, com pena de 1 mês a 1 ano (de detenção). Eles estavam em propriedade privada, mas o dono não representou pela invasão. Se conseguirmos achar as armas, aí é crime mais grave, de 1 a 4 anos.”
O advogado dos acusados, João Alberto Ferreira, disse que eles não são caçadores e que atiraram na onça para não serem mortos por ela. “Era a onça ou eles, que estavam armados só porque a mata é perigosa. Com a repercussão do caso, eles jogaram as armas num rio.” Sobre os cachorros, ele disse que os animais já estavam na mata acuando a onça e não pertencem aos homens. Perguntado sobre o vídeo em que eles narram a caçada, Ferreira disse que não teve tempo de vê-lo.