Em reunião na manhã desta quarta-feira, 19, com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), familiares da servente Claudia Silva Ferreira, de 38 anos, que foi arrastada pelo asfalto ao ser transportada por uma viatura da PM depois de ter sido baleada, exigiram mudanças na forma como moradores de comunidades são tratados durante operações policiais nestes locais.
“Se não tivesse aquele cara que filmou, este seria só mais um caso de (morador inocente) que tomou tiro, entrou no hospital e morreu”, afirmou o vigia Alexandre Fernandes da Silva, de 41 anos, viúvo de Claudia, referindo-se ao cinegrafista amador que filmou a mulher sendo arrastada pela viatura da PM depois de ter sido baleada numa operação policial no Morro da Congonha, em Madureira, zona norte do Rio, onde morava.
De acordo com o vigia, o governador pediu desculpas à família pelo episódio e prometeu empenho e rigor nas investigações. O encontro ocorreu no Palácio Guabanara, sede do governo do Estado, na zona sul do Rio, e durou cerca de duas horas. Após a reunião, Cabral não falou com a imprensa. Ele foi representado pelo secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, Pedro Fernandes.
“Entendemos que esse é um caso de extrema importância e a investigação tem que ser feita da forma mais rápida e eficaz possível. Oferecemos a inclusão de familiares e moradores da comunidade no Programa de Proteção a Testemunhas, apoio para acelerar processo de adoção dos quatro sobrinhos que Claudia criava, e a inclusão dos parentes nos benefícios sociais do governo. O governador também garantiu que a família será indenizada. Estamos limitados apenas às questões legais, já que cabe à Justiça estipular valores”, declarou o secretário.
Ações
Conforme o jornal O Estado de S.Paulo noticiou nesta quarta-feira, 19, os três PMs que arrastaram Claudia na viatura constam como envolvidos em 62 autos de resistência (registros de ocorrência em que suspeitos morreram em supostos confrontos com a polícia) no sistema informatizado da Polícia Civil. Pelo menos 69 pessoas morreram nesses supostos tiroteios, desde 2000.
“Existe um conceito de que na favela todo mundo é bandido. Mas lá também tem muito trabalhador, como eu e a Claudia era. As pessoas de bem não podem pagar pelo mal. Está na hora disso acabar. Não pode a polícia chegar na comunidade, dar tiro, matar morador, e depois botar (no registro de ocorrência) que foi troca (de tiros)”, disse o viúvo.
Após a reunião com Cabral, os parentes foram se encontrar na sede da Polícia Civil, no Centro, com o chefe da instituição, delegado Fernando Veloso, e o comandante-geral da PM, coronel Luís Castro.