“Brimos” são referência de empresários para Lula

Beirute (Líbano) – Em tom bem humorado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu a um termo típico dos imigrantes árabes no Brasil para defender o aprofundamento das relações com o Líbano. Segundo Lula, os empresários brasileiros precisam aprender com os “brimos” (primos) árabes como fazer negócios.

“Não estamos aqui apenas com uma visão comercial, com uma visão econômica, porque, antes de tudo, Brasil e Líbano são países irmãos. E os libaneses e os brasileiros podem dizer uma frase que vocês utilizam muito no Brasil: nós somos brimos de verdade”, disse Lula, ao final do discurso de encerramento do Seminário Empresarial Brasil-Líbano, no qual foi aplaudido de pé por cerca de 300 empresários libaneses e brasileiros.

O presidente lembrou a milenar tradição comercial dos libaneses, iniciada com os fenícios, e disse que o bom negociante não é aquele que “gosta de levar vantagem em tudo”. Lula usou os números da balança comercial entre os dois países, amplamente favoráveis ao Brasil, para argumentar que o governo quer aumentar as exportações, mas também promover as importações de produtos libaneses por empresas brasileiras. No ano passado, o Brasil vendeu US$ 46 milhões aos libaneses e comprou apenas US$ 3 milhões. “O bom comerciante não é aquele que quer levar vantagem em tudo, não é aquele que apenas quer vender e não quer comprar, o bom comerciante é aquele que, depois do negócio, sai feliz, mas o seu interlocutor sai feliz também, porque fez um grande negócio”, disse Lula.

O presidente disse também no discurso que o governo brasileiro está disposto a identificar empresas brasileiras interessadas em comprar produtos libaneses.

Lição

De acordo com o presidente, os empresários brasileiros têm muito a aprender com os libaneses na condução dos negócios. “Queira Deus que muitos dos empresários brasileiros aprendam com os empresários libaneses a arte de negociar”, disse.

No seminário, que contou com a presença de 250 empresários libaneses e cerca de 30 dos 63 brasileiros cadastrados, o presidente voltou a defender a união dos países em desenvolvimento como forma de ganhar força nas relações comerciais com as grandes potências e mudar a “geografia comercial” do planeta. “O mundo rico, o mundo desenvolvido, quando se trata de negócios, age com muita dureza em defesa dos seus interesses. Por isso é que, na Organização Mundial do Comércio, temos tantas dificuldades para fazer com que os europeus e os americanos abram mão dos subsídios dos seus produtos, sobretudo os agrícolas, para que os países em desenvolvimento possam competir em igualdade de condições. Afinal de contas, o livre comércio precisa ser uma via de duas mãos.” Após o discurso de Lula, formou-se uma fila de empresários libaneses para os cumprimentos e entre eles estava o megainvestidor em bolsas de valores Naji Nahas. Nascido no Libano, Nahas foi para o Brasil em 1967, onde se envolveu em vários escândalos especulativos no mercado financeiro. Nahas foi para o Libano por conta própria (não está na delegação brasileira que acompanha Lula) e entrou na fila de cumprimentos como outras dezenas de empresários libaneses. Lula não teve como evitar o cumprimento, segundo empresários brasileiros que acompanharam o fato.

Reformas

O presidente lembrou ainda que o Líbano, a exemplo do Brasil, também faz suas reformas e disse que no Brasil esse processo não tem sido fácil. “Como no Líbano, enfrentamos o desafio de promover reformas difíceis, por vezes amargas, mas que nos colocam na rota do desenvolvimento sustentável e da plena cidadania” disse Lula ao parlamentares libaneses.

Missão comercial no Iraque

Beirute (Líbano) – O ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, propôs ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que o Brasil abra uma missão comercial no Iraque. Furlan disse que fazer isso agora é arriscado, mas ressalvou: “Na hora que todo mundo for, provavelmente a rifa já correu”.

O ministro afirmou ontem no Líbano que o Brasil “também está querendo ajudar na reconstrução do Iraque buscando parcerias no mundo árabe”. O governo acredita que essa estratégia possa ajudar as empresas brasileiras a superar as atuais dificuldades para participar do potencial mercado iraquiano.

Atualmente, o governo norte-americano controla todos os negócios no Iraque e tem concentrado os gastos da reconstrução em fornecedores americanos e europeus, principalmente entre os aliados da coalizão americana na guerra.

Acordo

Um grupo de trading libanês entrou em contato com o governo brasileiro para tentar comprar armamento não-letal do País para vendê-lo ao Iraque. O interesse é em equipamentos como capacetes, coletes à prova de bala e balas de borracha, provavelmente para uso policial. O provável vendedor é a empresa Condor do Rio de Janeiro.

O negócio é o primeiro passo concreto dado durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sentido de utilizar países da região para fazer uma ponte de negócios com o Iraque. Essa, aliás, é a intenção declarada do governo brasileiro. A estratégia de utilizar países como o Líbano para ampliar a venda de produtos brasileiros na região não se resume apenas ao Iraque. “O potencial para esse tipo de negócio (o da venda de armas não-letais) é enorme na região e o Brasil precisa aproveitá-lo”, disse o secretário do Itamaraty Norton de Andrade Mello Rapesta.

Segundo Rapesta, a maior parte dos mercados árabes é pequena individualmente, por isso o Brasil tem como objetivo criar uma plataforma de exportação em um ou dois países da região para vender para toda a comunidade. O projeto é de longo prazo mas, na opinião do governo, casos como o da Condor mostra que é possível obter resultados também no curto prazo.

Discurso amenizado

Beirute (Líbano) – Um dia depois de emitir um comunicado conjunto com o presidente da Síria, Bashar Al-Assad, no qual pede a desocupação do Iraque, Lula baixou o tom das declarações sobre as questões iraquiana e palestina e, embora tenha condenado a ocupação de territórios árabes, voltou a defender a segurança do povo de Israel.

“O Roteiro da Paz e a Iniciativa Árabe da Paz, assim como as negociações de Genebra, oferecem alternativas convergentes para o estabelecimento de um Estado palestino independente, democrático, seguro, coeso e economicamente viável. Ao mesmo tempo, garantem as condições para o Estado de Israel viver em paz e segurança dentro de suas fronteiras. Repudiamos todas as formas de violência. Rechaçamos a repressão nos territórios árabes ocupados”, disse Lula em discurso na Assembléia Nacional do Líbano.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, apresentou ontem uma cópia da Resolução 1.483, de 22 de maio, da ONU, à qual chamou de “a mãe de todas as resoluções”, para defender que não houve exagero do governo brasileiro ao classificar como ocupação a presença das forças dos Estados Unidos no Iraque. Na resolução, a ONU chama as tropas norte-americanas de “forças ocupantes”. “O Brasil está tomando uma atitude de independência. Tem muita gente que não está acostumada a pensar de maneira independente”, disse o ministro, em resposta às críticas sobre o teor das declarações políticas de Lula no Oriente Médio.

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