O caso da brasileira Patrícia Camargo Magalhães – barrada em 10 de fevereiro no Aeroporto de Madri, retida por três dias e depois repatriada ao Brasil – não é o único. Situação semelhante foi vivida por Beta Araújo Pratz, de 31 anos. A estudante de direito e técnica acadêmica no Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) ficou retida no aeroporto da capital espanhola por cinco dias antes de ser repatriada. Em entrevista à Agência Brasil, ela disse que se sentiu desrespeitada.
Beta Pratz desembarcou em Madri para se encontrar com o namorado e, em seguida, viajar de férias por diferentes cidades do continente europeu. Ela foi barrada e conduzida ao alojamento onde também ficou retida Patrícia Camargo Magalhães.
Para a estudante, as autoridades da imigração da Espanha não checaram as informações que ela apresentou. Beta diz que forneceu nomes de pessoas na cidade com telefones, mas que nenhum contato foi feito. A brasileira conta que no alojamento, que ficou superlotado, havia problemas como falta de camas e para usar o banheiro. ?Consegui reservar uma cama para mim no lugar, mas, nos dias seguintes, muita gente foi colocada ali e algumas dormiam no chão.?
Beta Pratz afirma que ?se o governo espanhol quer fazer uma triagem severa, que faça direito, que peça um visto aqui [no Brasil] em vez de reter a pessoa por dias na imigração.? Ela relata que, apesar da severidade do tratamento, foi atendida por uma advogada do governo. Além disso, diz não ter sido agredida fisicamente, embora tenha presenciado agressões a um grupo de africanos muçulmanos.
Uma menina foi retirada do quarto ?à força, pelo braço?, conta a estudante. ?E ela estava com a blusa desabotoada, de sutiã. Eles saíram arrastando, ela não queria sair. Qualquer pessoa que me pegue pelo braço e me arraste, eu me sentiria agredida.?
A estudante questiona os critérios usados nesses casos pela diplomacia. De acordo com ela, o consulado brasileiro informou que só poderia intervir para preservar a sua integridade física. ?Me deu vontade de perguntar para ele [o cônsul] o que ele considera integridade física. Porque ficar sem tomar banho, sem escovar os dentes, dormindo num lençol sujo, não é íntegro. Minha integridade física não foi preservada?, avalia.
A brasileira tem um processo em andamento na Espanha, conduzido pela advogada e defensora pública que a atendeu, com uma audiência marcada para 5 de julho de 2009.
Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério das Relações Exteriores informou à Agência Brasil que, durante o ocorrido, o consulado brasileiro em Madri fez todo o possível para auxiliar a estudante e que o chanceler Celso Amorim manifestou pessoalmente ao governo espanhol a preocupação do Brasil em relação à quantidade de brasileiros impedidos de entrar no país.
Segundo relatório de ocorrências feitas pela Polícia Federal, a Espanha barrou e mandou de volta ao Brasil 187 brasileiros em 2006 e 192 no ano passado. Esse número engloba as pessoas deportadas, extraditadas, expulsas ou simplesmente repatriadas. Esse último grupo, do qual faz parte como Beta Pratz, não está impedido de retornar à Espanha.
No ano passado, a Espanha foi o país que mais mandou brasileiros de volta ao país de origem, seguida pelos Estados Unidos, com 187 casos.
Nos últimos dois anos, 3.764 brasileiros foram reembarcados ao Brasil. Em 2006, outros países aparecem com reembarques maiores, como os Estados Unidos, o segundo na lista com 302 casos. A Guiana Francesa lidera a lista, com 887 ocorrências, relacionadas à tentativa de entrada de garimpeiros naquele país, segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal em Brasília.