Rio
– O navio Amazon Explorer, que leva 82 milhões de litros de gasolina do Brasil para Venezuela, já partiu e deve chegar este fim de semana a Caracas, de acordo com a Petrobrás. O combustível, comprado pela empresa Petróleos de Venezuela (PDVSA), vai ajudar a normalizar o abastecimento naquele país, afetado por greve que está ocorrendo desde o dia 2 contra o governo do presidente Hugo Chávez.A ida do navio foi negociada com o governo venezuelano por Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, e apoiada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que pediu providências à Petrobrás. A venda é um bom negócio para a estatal brasileira, disse um executivo de uma trading. De acordo com ele, a Petrobrás está conseguindo um preço melhor com a Venezuela do que o obtido quando vende a gasolina para a Nigéria.
Lula enviou Garcia, na semana passada, para avaliar a crise venezuelana. Garcia retornou na terça-feira, trazendo pedido de Chaves para que o Brasil ajude a Venezuela com o envio de gasolina, técnicos e um navio para transporte de petróleo cru. Garcia afirmou ontem que a posição brasileira de enviar ajuda ao país vizinho não é uma interferência em assuntos domésticos, “como querem alguns setores mais nervosos da oposição venezuelana.” “O que está sendo encaminhado é simplesmente uma medida normal entre dois governos”, afirmou ontem ao deixar o Instituto de Cidadania, onde se reuniu com Lula por cerca de meia hora. Garcia justificou a decisão brasileira de ajudar a Venezuela, dizendo que o objetivo do auxílio é diminuir as graves condições de desabastecimento. Segundo ele, tais condições poderiam “exacerbar os ânimos” entre partidários do governo do presidente Chávez e a oposição, o que poderia provocar saques e revoltas da população. Informações obtidos por Garcia em sua visita à Venezuela na semana passada indicam que 70% da população venezuelana está armada.
Normalidade
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva considera absolutamente normal o fato de o governo brasileiro ter decidido ajudar a Venezuela. A afirmação foi uma resposta à oposição venezuelana, que anteontem criticou o apoio do Brasil ao governo constitucional de Chávez. “Não sei porque a oposição reclama. Torcemos para a Venezuela resolver seu problema da forma mais democrática possível”, afirmou.
Lula considera a ajuda brasileira um ato de solidariedade ao povo venezuelano que não pode pagar o preço da crise política. O presidente eleito considera a Venezuela um parceiro extremamente importante para o Brasil e reforçou que pretende, em seu governo, fazer com que o Brasil exerça um papel de liderança na América Latina. Lula destacou que, se oposição e governo venezuelano não chegarem a um acordo, a eleição não será suficiente para resolver a crise. “É preciso saber se as partes acatarão o resultado eleitoral”, afirmou.