Depois de 15 anos de promessas, três planos de política industrial e um escândalo que deu origem às investigações da Operação Vampiro (2004), o governo federal está finalmente tirando do papel a primeira fábrica de hemoderivados do País. No segundo semestre de 2011, quando começar a produzir pelo menos seis tipos dos complexos e caríssimos “remédios de sangue”, o Brasil se tornará autossuficiente em alguns desses medicamentos ou reduzirá muito a dependência da produção, hoje concentrada em oito grandes fabricantes mundiais.

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A grande parceira da fábrica é a empresa pública francesa Laboratoire Français du Fractionnement e des Biotechnologies (LFB ), a única entre as concorrentes que no processo de licitação aceitou fazer a transferência de tecnologia para a empresa brasileira em seis produtos: fatores 8 e 9, complexo protrombínico, fator de von Willebrand, albumina e imunoglobulina. Hoje, a aquisição e fornecimento desses produtos para pacientes hemofílicos, cirurgias de alta complexidade e tratamentos intensivos de câncer, aids e outras doenças infecciosas movimenta um mercado de R$ 1 bilhão.

A obra do primeiro bloco do complexo da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), no polo Farmacoquímico de Goiana, a 63 quilômetros do Recife (PE), começou no início de abril. É a Câmara Fria, um prédio de R$ 33 milhões e 2.700 metros quadrados com capacidade para receber e estocar até 1 milhão de bolsas do plasma brasileiro, que será fracionado e transformado em medicamentos hemoderivados. Outros R$ 10 milhões foram investidos na compra de robôs que vão operar no interior da Câmara Fria, à temperatura de -25 graus Celsius.

“A meta é reduzir o custo dos tratamentos com hemoderivados, substituir a importação, tornar o País autossuficiente em albumina, imunoglobulinas, no concentrado de fator 9 de coagulação, complexo protrombínico e fator Willebrand. A fábrica também vai prover 35% da necessidade de fator 8”, resumiu ao Estado o médico João Paulo Baccara, presidente da Hemobrás.

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Levando em conta o custo total da fábrica, em torno de R$ 550 milhões, e a economia no preço dos medicamentos, Baccara calcula que “em dois anos e meio a sociedade vai recuperar o investimento”.