São Paulo – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que a ameaça de extensão do conflito do Iraque para outros países do Oriente Médio, entre eles a Síria, é altamente preocupante. No entanto, ele alertou que é necessário tomar muito cuidado antes de antecipar “excessivamente” interpretações de eventuais atitudes dos Estados Unidos em relação à questão.
“É necessário, primeiro, ver quais os objetivos, já que hoje é difícil saber se eles servem mais para, digamos, convencê-los (a Síria) a ter certo comportamento ou, segundo, se realmente significam uma ameaça de alargamento do conflito”, disse o ministro logo depois de participar de uma reunião fechada com representantes da indústria nacional na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Amorim preside o Comitê Empresarial Permanente, que se reúne a cada quatro meses. “Se for essa segunda hipótese, seria altamente preocupante.”
O chanceler brasileiro afirmou esperar que o conflito no Iraque termine o mais rápido possível e com menor custo adicional de vidas do que até agora. “Esperemos que a situação do Iraque se normalize com a participação importante das Nações Unidas, não só na parte física de construção do país, mas também na parte política. Caso contrário, não vai ser possível criar o ambiente necessário de paz no Oriente Médio como um todo”, acrescentou o ministro.
Indagado se hoje é possível prever quem, como, quando e quanto custará a reconstrução do Iraque, o chanceler afirmou que é difícil responder a essas perguntas até porque ninguém sabe quem está “planejando isso”. Até gora, por exemplo, ninguém fez ainda as contas sobre esse custos, embora membros dos governo dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha tenham já “chutado” algumas cifras.
“Suponhamos que, terminada a guerra bélica, o Iraque comece a produzir 3 milhões de barris de petróleo por dia. Em um ano, serão 1 bilhão de barris que, a um preço médio de US$ 27, representariam US$ 27 bilhões”, comentou um alto empresário paulista que preferiu manter seu nome no anonimato. “Ocorre que o PIB do país é de aproximadamente US$ 45 bilhões. Pergunto quem é que vai pagar essa conta de outros US$ 27 bilhões que o país precisa para continuar existindo e dar de comer aos seus habitantes?”
Ainda a respeito da reconstrução do Iraque, o ministro Celso Amorim disse que, certamente, serão necessários recursos adicionais para isso, seja do Banco Mundial ou de outros organismos multilaterais de financiamento. De acordo com ele, as exportações de petróleo do Iraque já eram, em grande parte, usadas para pagar dívidas do país e até para os custos dos inspetores das ONU.