Brasília – A má situação de moradia no Brasil impressionou o relator especial das Nações Unidas para Habitação Miloon Kothari. No País desde o dia 30 do mês passado, Kothari classificou algumas das áreas de favelas que viu em cidades como Recife e Fortaleza como das piores do mundo. Ele iniciou sua visita por São Paulo, passou por Brasília, Alcântara (Maranhão), Rio e Salvador.
Apesar de reconhecer a “boa vontade” do governo brasileiro em atacar os problemas, o relator apontou excesso de lentidão em tirar do papel projetos que podem melhorar a situação. “Algumas das condições de moradia no Recife e em Fortaleza estão entre as piores que eu já vi. As pessoas não podem nem mesmo dormir à noite, com água entrando nas casas, ratos e baratas. O que realmente me surpreende é que pessoas vivam nesse estado de negligência do poder público por 10, 20 anos. É inaceitável”, afirmou Kothari.
Piores
O local que impressionou tanto o relator – arquiteto indiano acostumado a viajar pelo mundo analisando condições de moradia – chama-se Vila Imperial, no Recife. Fica entre um viaduto e depósito de lixo e concentra 154 famílias. No local 50% das pessoas estão desempregadas.
Outros pontos como esse também surpreenderam Kothari, assim como a situação de vilas rurais, quilombos e comunidades indígenas. “É muito perturbadora a condição de insegurança dessas comunidades, que estão perdendo sua identidade e não têm garantia de manutenção de suas terras”, disse.
Kothari deve apresentar seu relatório sobre as condições de habitação no Brasil à Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em abril de 2005. Mas já no segundo semestre deste ano, o governo brasileiro deve ter acesso a uma versão preliminar.