Dois anos após provocar no País um surto de infecção hospitalar de proporções inéditas no mundo, a micobactéria de crescimento rápido volta a contaminar dezenas de pessoas no Brasil. Nesta nova onda, foram registrados 78 casos suspeitos de contaminação, concentrados em pacientes atendidos em dois hospitais particulares: um em Manaus e outro em Carazinho (RS), município a 292 km de Porto Alegre.
Embora os estudos não estejam concluídos, autoridades sanitárias não hesitam em afirmar que a origem das novas contaminações é a mesma que provocou o surto entre 2006 e 2008: o uso de equipamentos de videoscopia sem esterilização e desinfecção adequada.
“É uma crônica de morte anunciada”, afirmou a diretora do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, Margareth Dalcolmo. “O controle de infecções hospitalares continua precário no País.” Margareth contou que, nos casos recentes, a micobactéria apresenta uma resistência maior aos remédios usados para tratamento. “Uma parte dos pacientes tem de ser tratada com drogas endovenosas, algo que requer um cuidado maior.”
Atualmente, a terapia necessária é mais cara e longa – no mínimo seis meses. “É um problema que preocupa: pelas características do agente da doença, pelo sofrimento humano, pela duração do tratamento.” A pneumologista deverá fazer o sequenciamento genético dos agentes que causaram infecção nos dois hospitais. Em Manaus, o problema está concentrado no Hospital Santa Júlia. O nome do hospital de Carazinho não foi informado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Após o surto registrado até 2008, a Anvisa divulgou novas regras para desinfecção dos aparelhos. Algo que, para Margareth, não foi adotado em todo o País. “O paciente teoricamente escolhe a técnica por ser menos invasiva e, por causa do material não esterilizado, acaba sendo vítima de infecção grave. Muitas vezes, cirurgias são necessárias para tratar a contaminação.”