Periferia das grandes cidades abriga uma massa de excluídos. |
Rio – A ONU e o IBGE informaram ontem que 49 milhões de brasileiros vivem com até meio salário mínimo, e outros 5 milhões não têm nenhuma renda. O Brasil tem hoje 54 milhões de pobres, o que corresponde a um terço do total da população, e 15 milhões de analfabetos, ou 12,4% de seus habitantes.
Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que produziu um estudo sobre a realidade brasileira para o Fundo de População das Nações Unidas, que divulgou ontem o seu relatório anual sobre desenvolvimento, pobreza e a população mundial. O relatório divulgado no Rio de Janeiro, e também em Nova York, mostra que há significativas diferenças regionais: a região Nordeste é a que mais sofre com a pobreza: 51% da população recebe até um salário mínimo por mês (R$ 200,00), enquanto no Sudeste essa proporção é de 18%.
Os dados mostram que a distribuição de renda no país continua desigual. Em 2001, 40% da população mais pobre teve acesso a apenas 10,1% do total de rendimento nacional, enquanto os 10% mais ricos detiveram 46,1% da renda. No Nordeste, a desigualdade também é ligeiramente maior que no Sudeste. Enquanto os nordestinos mais ricos ficaram com 48,6% da renda, os mais pobres tiveram acesso a 10,2%. No Sudeste, 11% da renda ficou para os mais pobres e 42,2% para os mais ricos.
Segundo o IBGE, os dados entre o Nordeste e o Sudeste são a constatação das profundas diferenças existentes no Brasil quanto à distribuição quantitativa e qualitativa dos recursos da produção, da tecnologia e, sobretudo, da qualidade de vida que têm acompanhado a evolução histórica do país desde o final dos tempos coloniais.
No Brasil, o estudo aponta um outro fator de desigualdade: o racial. Quando se analisam os dados da população que vive com até meio salário mínimo de rendimento familiar per capita, levando-se em consideração a cor, observa-se que apenas 34,8 por cento se declararam brancas, enquanto 77,1 por cento se declararam de cor negra ou parda. No outro extremo das pessoas em famílias com rendimento superior a dois salários mínimos, a sub-representação é relativa às pessoas pretas e pardas.
O estudo concluiu que a falta de planejamento familiar no Brasil é a causa mais marcante da pobreza. Segundo o que foi apurado pelo IBGE, o número de analfabetos permaneceu elevado, em 15 milhões de pessoas, apesar de uma melhora geral nos níveis de escolaridade da população na última década. Por outro lado, o IBGE mostrou que houve significativos avanços na escolarização de crianças de 7 a 14 anos, com 96 por cento de freqüência nas escolas.
No entanto, dos 92 por cento de jovens de 15 a 19 anos das famílias mais pobres que terminam o primeiro ano, apenas metade completa o quinto.
No seu relatório, a ONU afirma que a queda nas taxas de natalidade do Brasil ajudou a melhorar a situação econômica do País e que o efeito foi um crescimento de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) per capita por ano entre 1972 e 1994. O relatório mostrou que a taxa de urbanização do Brasil passou de 75,59 por cento, em 1991, para 81,25 por cento, em 2000. Os municípios de mais de 100 mil habitantes que tinham há 10 anos 70,8 milhões de habitantes, passaram para 86,5 milhões. Já os municípios com mais de 500 mil habitantes, que contavam com 38,8 milhões de habitantes no início da década de 90, têm 46,9 milhões.