A resistência do Brasil em permitir que inspetores internacionais tenham livre acesso aos equipamentos que produzirão urânio enriquecido em escala industrial a partir de 2004 ganhou destaque na imprensa estrangeira. O jornal norte-americano New York Times, na edição de domingo, e o argentino La Nacion publicaram reportagens sobre a posição do governo brasileiro.
O site do Wall Street Journal, segundo maior jornal dos EUA, também publicou a informação. A intenção de fabricar o combustível, usado nas usinas nucleares Angra 1 e 2, foi anunciada no início de outubro pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral.
?Autoridades do governo afirmam que o esforço de enriquecimento de urânio é exclusivamente pacífico, de fornecer combustível para a produção de energia elétrica nas usinas nucleares do país. Mas ainda que se mantenha como uma nação pacífica, o Brasil, que tem o sexto maior depósito de urânio conhecido do mundo, pode não ser submetido ao mesmo regime de inspeções não anunciadas pela Agência Internacional de Energia Atômica, como o Irã e a Líbia recentemente aceitaram?, diz a reportagem do NYT.
Tratado
O Brasil aceitou assinar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares ? que está em vigor desde 1970 – em 1997. Ele permite inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, feitas sem anúncio prévio. Além disso, o País concordou em suspender sua produção de urânio enriquecido, que poderia ser usado para a fabricação de armas nucleares, em troca de acesso à tecnologia ocidental para desenvolver um programa civil de energia nuclear.
O La Nacion destaca que a AIEA começou a pressionar o Brasil para que permita inspeções rigorosas das máquinas que produzirão o combustível nuclear, um dia depois de o Irã ter cedido às exigências internacionais. ?Até o momento, o Brasil se nega a permitir inspeções que revelem a capacidade, características e alcance dos equipamentos desenvolvidos pela Marinha brasileira para o enriquecimento de urânio?, diz o diário argentino.
De acordo com o ministro Roberto Amaral, o processo de enriquecimento do urânio será feito na fábrica das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) de Resende (RJ). A INB é uma estatal ligada ao Ministério da Ciência e da Tecnologia.
