Brasil não é de segunda classe, diz Lula a Bush

Nova York – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou ontem, durante um discurso em Nova York, que disse ao presidente americano, George W. Bush, que o Brasil quer ser tratado de igual para igual ao negociar com os Estados Unidos na área comercial. “Disse a Bush que estamos prontos para conversar com os EUA (sobre as divergências comerciais existentes), mas não queremos ser tratados como cidadãos de segunda classe”, afirmou Lula.

A declaração foi feita no final do pronunciamento a empresários que Lula fez no Conselho de Relações Exteriores em Nova York, antes de embarcar para o México. O presidente disse que as relações entre Brasil e Estados Unidos têm se caracterizado pela franqueza e lealdade e que, em relação às negociações para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o Brasil está buscando soluções realistas.

No discurso, o presidente comentou o impasse no comércio internacional, numa aparente referência às negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Criou-se um verdadeiro apartheid comercial entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Os países ricos dão hoje um bilhão de dólares por dia na forma de subsídios à produção e exportação de produtos agrícolas”, disse Lula.

“Não busco confronto e sim uma reorganização do comércio internacional. O livre comércio não pode ser uma via de mão única.” Ele também destacou seu interesse em seguir adiante nas negociações no âmbito do Mercosul e com todos os países da América do Sul. Para tanto, ele ressaltou que, em seus nove meses de governo, recebeu visitas de todos os chefes de Estado sul-americanos. “Queremos fortalecer o Mercosul e levar adiante a união aduaneira em direção ao mercado comum. Começamos a trabalhar a idéia de um parlamento do Mercosul.”

O presidente da República também anunciou sua intenção de unificar as políticas sociais no Brasil nas esferas federal, estadual e municipal. De acordo com Lula, no dia 30 deste mês será fechado um acordo nesse sentido em uma reunião com a presença de governadores e prefeitos. Ele criticou pessoas que culpam os países desenvolvidos pela má distribuição de renda no Brasil. “Os nossos problemas não são culpa dos Estados Unidos ou da União Européia, nem de Deus. A culpa é das nossas elites”, disse.

O presidente também ressaltou que o Brasil enfrenta agora os efeitos de políticas que nunca levaram à frente um programa para diminuir as desigualdades sociais no País. “Nem mesmo entre as décadas de 50 e 80, quando a nossa economia cresceu a 7%, houve uma política de redistribuição de renda. Já jogamos muita chance fora, e eu não vou jogar essa chance.”

Lula fala com Annan sobre a fome

Nova York – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu a luta contra a fome no mundo com o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, durante reunião na manhã de ontem em Nova York. Lula doou US$ 55 mil ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). No encontro de trinta minutos, em paralelo à 58ª Assembléia Geral da ONU, Annan e Lula também abordaram a situação no Iraque e a reforma no Conselho de Segurança, explicou José Luís Vieira, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores e membro da delegação brasileira em Nova York.

Lula comunicou oficialmente a Annan sua decisão de doar ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento os US$ 55 mil do Prêmio Príncipe de Asturias de Cooperação Internacional, que recebeu este ano. Além disso, Lula presenteou Annan com um pau-de-chuva, com o qual índios brasileiros costumavam chamar as chuvas.

Além disso, o presidente brasileiro anunciou que um grupo de dez multinacionais que operam no Brasil decidiu doar cerca de 1 milhão de dólares à mesma agência da ONU, acrescentou Vieira. Após se reunir com Annan, Lula tinha agendado um discurso no Conselho de Relações Exteriores (Council of Foreign Relations) de Nova York antes de embarcar para o México. Em território mexicano, Lula participaria de uma conferência de imprensa conjunta com o presidente Vicente Fox e, à noite, teria um jantar oferecido pelo colega. Hoje pela manhã, Lula segue para Cuba, onde ficará até amanhã.

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