Brasil diz não a Chávez e rejeita ampliar grupo

Brasília – O presidente venezuelano, Hugo Chávez, ouviu ontem uma resposta negativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seu apelo para que o grupo Amigos para a Venezuela fosse ampliado. Chávez havia desembarcado pela manhã com a missão de deixar clara sua insatisfação com a composição do grupo e defender a inclusão de países como Rússia, Cuba, China, Argélia, Jamaica e França, em um esforço para impedir que prevaleça a posição dos EUA e da Espanha, os membros mais favoráveis à antecipação do calendário eleitoral em seu país.

A decisão final do presidente Lula foi expressa pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao deixar a Granja do Torto, onde ocorrera o encontro. “O grupo não vai ser ampliado”, afirmou. Segundo ele, o presidente Chávez decidiu dar um voto de confiança ao grupo, da forma como foi criado. Logo ao desembarcar na Base Aérea de Brasília, Chávez declarou que considera o grupo Amigos para a Venezuela como um “embrião” e uma “pré-configuração” da proposta original.

A coalizão foi criada na quarta-feira, em Quito, no Equador, sob forte motivação do governo brasileiro. Seu objetivo será reforçar o trabalho do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), César Gaviria, que tenta tornar viável o difícil diálogo entre o governo venezuelano e a oposição. Na sexta-feira, essa tarefa foi suspensa por conta da radicalização das posições dos dois grupos. Em entrevista a uma TV estatal venezuelana, Chávez disse por telefone de Brasília que seu governo estudará este fim de semana a possibilidade de retirar-se da mesa de negociação por causa da atitude “golpista” dos representantes da oposição enviados a Nova York.

“Temos um primeiro grupo de países que, para nós, não é o grupo, mas apenas um embrião, com países dos continentes americano e europeu”, declarou Chávez, ao desembarcar em Brasília por volta das 10 horas, duas horas e meia após o horário previsto. “Agradecemos muitíssimo o gesto de boa- fé desses países em querer ajudar a Venezuela. Mas queremos que o grupo se amplie”, completou.

Antes de dirigir-se para a Granja do Torto para seu encontro com Lula, Chávez argumentou que a Venezuela conta com “amigos” no mundo inteiro, na Europa, na Ásia, no Médio Oriente, na África e no Caribe. Alegou ainda que o próprio presidente da Rússia, Vladimir Putin, já se teria mostrado disposto a participar. A decisão de criá-lo deveu-se justamente a um acordo em torno do número restrito de participantes (posição defendida pelos EUA ) e do veto à Rússia e à França. A inclusão de Cuba nessa fórmula seria inimaginável, no momento.

Ontem, entretanto, Chávez ainda tentou dissipar a idéia de que sua vinda de última hora a Brasília estava relacionada aos temores de que as posições americanas acabem prevalecendo no grupo Amigos para a Venezuela, o que tornaria inevitável a antecipação das eleições. Conforme afirmou, a presença do Brasil e de outros países que já manifestaram voluntariamente a disposição de cooperar com seu país evitará que haja um alinhamento em torno de qualquer outra posição.

Crise corrói economia da Venezuela

Brasília – A rigor, o mandato de Chávez termina apenas em meados 2006, mas seu governo pode ser submetido a um referendo revogatório em agosto deste ano, a metade de seu período como presidente. A oposição, que mobiliza uma greve há 48 dias, quer eleições o quanto antes. O impasse vem degradando as instituições democráticas e, igualmente, a economia do país. Ao desembarcar em Brasília, entretanto, Chávez deu um sinal de que não está nem um pouco disposto a ceder e voltou a atacar os oposicionistas, classificados por ele como “golpistas que atrapalham o país”.

“É importante esclarecer ao Brasil e ao mundo o seguinte: na Venezuela não há dois blocos se enfrentando. Há um governo legítimo e democrático enfrentando um movimento subversivo, que inclui ações terroristas, de sabotagem contra a empresa petrolífera e contra o alimento do povo.” Chávez explicou que as intervenções em depósitos de alimentos e bebidas, ordenadas por ele na véspera, buscam garantir a alimentação da população venezuelana, afetada por “alguns empresários alinhados com o golpismo”. Chávez conversou com o presidente Lula sobre a compra de gasolina e a cooperação à empresa Petróleo da Venezuela (PDVSA).

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