Uma operação aparentemente de rotina, desencadeada no Brasil há um mês, está ajudando os governos dos Estados Unidos e da França a desmantelar, com auxílio da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal), uma gigantesca rede de prostituição de alto luxo, com envolvimento até de políticos desses dois países. O esquema, investigado em São Paulo pela Operação Harém, da Polícia Federal (PF), consistia no recrutamento de jovens brasileiras e posterior agenciamento para clientes no exterior, que as escolhiam num catálogo eletrônico de fotos.
Na extensa lista de clientes, há grandes empresários, executivos e autoridades públicas internacionais, incluindo políticos de Las Vegas, no Estado norte-americano de Nevada. Na França e no Caribe, onde também há ramificações do esquema, a investigação também avança, com ajuda da Interpol. Durante a operação, deflagrada em 1º de agosto, 15 mulheres foram detidas em São Paulo e confirmaram o esquema. Mas todas foram liberadas após o depoimento porque, com base na legislação brasileira, foram consideradas vítimas do tráfico internacional de mulheres, segundo explicou uma fonte policial com acesso às investigações.
Ao contrário das mulheres aliciadas, os operadores e financiadores do esquema responderão perante a Justiça de Brasil, Estados Unidos, França e Caribe. Conforme a denúncia do Ministério Público (MP) à Justiça Federal em São Paulo, os réus brasileiros responderão pelos crimes de tráfico internacional e nacional de pessoas com fins de prostituição, rufianismo (tirar proveito da prostituição alheia), formação de quadrilha e favorecimento à prostituição.
Conforme a denúncia, seis grupos atuavam no esquema, sendo três deles no Brasil, onde ficava o núcleo central responsável pelo agenciamento e aliciamento das mulheres. Elas eram enviadas para Estados Unidos, Caribe e França, onde ficavam os outros três grupos. Algumas seguiam para acompanhar clientes em programas em grandes cassinos de Las Vegas, em resorts da República Dominicana e outros locais no Caribe. Outras recebiam os clientes no Brasil mesmo, em cidades como Rio de Janeiro, Vitória e São Paulo.