O Brasil cumpriu duas das 51 metas nacionais para preservação da biodiversidade, segundo relatório do Ministério do Meio Ambiente preparado para a décima edição da Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP-10), que começa na segunda-feira (dia 18), em Nagoya, no Japão. Representantes de 193 países vão discutir o cumprimento das metas ambientais para 2010 e discutir os próximos objetivos até 2020.

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No documento, disponível na página na internet da COP-10, o governo brasileiro informa que apenas duas metas nacionais foram atingidas. Uma delas foi a redução de 25% do número de focos de incêndio em cada bioma. Este item, no entanto, considera os dados só até 2009, o que exclui o recrudescimento dos casos de incêndios e queimadas neste ano. A outra meta alcançada foi a catalogação de todas as espécies brasileiras da fauna e da flora já conhecidas. A listagem reúne informações úteis para pesquisadores, como nome científico das espécies, classificação taxonômica e área de ocorrência. A catalogação, porém, deixa uma grande lacuna ao não procurar novas espécies. Segundo estimativas do próprio ministério, 70% das espécies brasileiras, principalmente de insetos, ainda não são conhecidas.

O relatório informa que outras quatro metas foram cumpridas parcialmente: conservação de pelo menos 30% do bioma Amazônia (chegou a 27%); aumento nos investimentos em estudos e pesquisas para o uso sustentável da biodiversidade; aumento no número de patentes geradas a partir de componentes da biodiversidade; e redução em 75% na taxa de desmatamento na Amazônia.

Por outro lado, ficaram de fora metas importantes, relacionadas à preservação direta da biodiversidade. Nos biomas onde as unidades de conservação deveriam ocupar ao menos 10% do território, os resultados ficaram bem distantes. Foi o caso do Pantanal, com 4%, e das zonas costeiras, 1,5%. Na Mata Atlântica, a meta de desmatamento zero não foi alcançada. Já em relação à fauna, não houve redução da lista de espécies animais ameaçadas de extinção.

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As 51 metas de conservação para 2010 foram estipuladas por resolução da Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio) em 2006, quando o Ministério do Meio Ambiente era comandado pela ex-candidata à Presidência, senadora Marina Silva (PV-AC). Os compromissos têm o objetivo de combater a perda de biodiversidade, o desmatamento e a extinção de espécies biológicas. Esses problemas se repetem em vários países e causam prejuízos globais de até US$ 4,5 trilhões (mais de R$ 8 trilhões) por ano, segundo levantamento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O relatório brasileiro sobre o cumprimento das metas foi publicado no dia 10 de outubro pelo site oficial da COP-10, apenas oito dias antes do início da convenção. Dos 193 países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica, 148 já haviam entregado o relatório sobre as metas nacionais. O Brasil foi o último até hoje e o governo não anunciou a publicação do documento.

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Avanços e justificativas

O relatório classifica o resultado das metas não cumpridas como “modesto” e destaca que o conjunto de 51 metas nacionais é “ainda mais ambicioso do que as metas globais”. Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, a justificativa para o não cumprimento dos compromissos está numa série de fatores, entre elas a falta de recursos financeiros e de equipes. “O Brasil é muito grande, tem muitas demandas”, disse em meados de setembro, em entrevista à Agência Estado, quando divulgou balanço preliminar.

O relatório lembra que, para ajudar no cumprimento dos compromissos no período, foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é responsável pela criação e gestão de unidades de conservação. Também são citadas a criação do Centro Nacional para a Conservação da Flora (CNCFlora), para atualizar periodicamente a lista de espécies de plantas ameaçadas e desenvolver planos de conservação, e a criação do Serviço Florestal Brasileiro, para conciliar o uso e a conservação das florestas públicas.

Dias alegou que as ações não dependem apenas do Ministério do Meio Ambiente, mas também de outros órgãos do governo e da mobilização de empresas e cidadãos comuns. A pasta afirma que os indicadores e as metas de biodiversidade devem se tornar importantes também na agenda política do País para assegurar sua adoção e o apoio de outros setores, sob o risco de metas não refletirem “nada mais do que meras esperanças”.