O Brasil caiu oito posições, passando de 83º para 91º, no ranking mundial de solidariedade e ao lado da Venezuela é a nação menos generosa da América do Sul. A Colômbia, por sua vez, é o país mais solidário na região, seguido por Chile (31º e 35º lugar, respectivamente). Os dados constam no estudo “World Giving Index 2013 – Uma visão global das tendências de doação”, divulgado no Brasil pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e produzido pela britânica Charities Aid Foundation (CAF).
O levantamento é considerado um dos mais abrangentes do mundo no que diz respeito à doação. Na edição deste ano, que tem como base as ações de solidariedade em 2012, foram ouvidas 155 mil pessoas em 135 países. A pesquisa é feita a partir de três perguntas: no último mês fez alguma contribuição financeira para organizações sociais?; fez doação de tempo como voluntário?; ajudou a um desconhecido?. “A partir dessas respostas montamos o que chamamos de índice de solidariedade. E ele não incluiu apenas doações em dinheiro”, reforça a diretora-executiva do IDIS, Paula Fabiani.
Entre os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil é o segundo colocado ao lado da Índia, e perde apenas para a África do Sul, que ocupa a 69ª colocação. A Rússia é a 123ª e a China aparece nas últimas posições no 133º lugar. Para a diretora-executiva do IDIS, o Brasil poderia ter um papel mais importante neste cenário. “O Brasil apresenta a situação política mais favorável do bloco e é o mais democrático. Poderia estimular mais o crescimento da cultura de doação”, afirma.
Os Estados Unidos, que ocupam a primeira posição no ranking, segundo Paula, tem consolidado seu papel de doador. “O maior mapeamento da filantropia norte-americana aponta que, no últimos anos, em média, os EUA doaram cerca de US$ 300 bilhões”, diz. O resultado da pesquisa está sendo divulgado nesta terça-feira, 3, simultaneamente em outros oito países para marcar o Dia Mundial da Doação. “É uma data que já foi instituída nos EUA em contraposição ao Black Friday, já que ela acontece sempre na terça-feira seguinte ao Thanksgiving (Dia de Ação de Graças) e pega um pouco carona nessa onda de consumo para a conscientização”, afirma. Segundo Paula, no Brasil já há um pleito junto ao governo federal para instituir o Dia Mundial da Doação. “Vários países da América Latina já aderiram.”
A pesquisa é realizada desde 2009 (com dados de 2008) e essa foi a pior colocação do Brasil deste então. Segundo Paula, a principal justificativa para a queda no indicador é que a ajuda a desconhecidos caiu de 51% para 42%. “Os outros dois indicadores tiveram uma redução, mas foi menos dramática”, afirma. Segundo a pesquisa, 23% dos brasileiros afirmaram ter doado dinheiro para organizações sociais, uma queda de 1% em relação ao ano anterior. O voluntariado também caiu de 15% em 2009 para 13% no ano passado.
Apesar da redução no índice geral de solidariedade, o Brasil aparece em 9º lugar na lista dos países com o maior número absoluto de pessoas engajadas em alguma ação voluntária. Segundo o estudo, há mais de 19 milhões de voluntários no País, um milhão a mais que em 2011. Quanto ao gênero mais benevolente, as mulheres saem na frente: 26% delas doam dinheiro, contra 20% dos homens, e 15% fazem trabalho voluntário, contra 11% deles.
O relatório aponta recomendações para os governos de como melhorar a atuação de sua população no ranking de solidariedade. A primeira delas é regulamentar as organizações não-governamentais (ONGs) para dar segurança ao doador. Além disso seria preciso promover a transparência das ONGs. “Existe no nosso País grande desconfiança em relação ao Terceiro Setor, causada principalmente pelos escândalos envolvendo transferências irregulares de recursos a organizações sociais. Isso tem afetado negativamente a vontade das pessoas em ajudar o próximo. O governo e o Terceiro Setor precisam trabalhar juntos para reconstruírem essa credibilidade e permitir que as pessoas sintam segurança de que suas doações serão de fato destinadas a causas sociais”, explica.
De acordo com as orientações também é importante oferecer incentivos, inclusive fiscais, para facilitar a doação. “Por isso que o governo tem papel importante de fomentar, aumentar a transparência e começar a criar caminhos. Tem gente que não doa porque tem medo de cair na malha fina. É preciso ter um ambiente regulatório melhor”, reforça.
Paula destaca, no entanto, que com a realização da Copa do Mundo em 2014 o voluntariado pode ganhar destaque no País. “Será uma grande oportunidade para que a comunidade se una e para que o mundo conheça um País hospitaleiro e solidário.”