O Brasil atacou ontem o acordo assinado entre 40 países ricos que estabelece o primeiro tratado internacional para criminalizar o comércio, a produção e o fornecimento de produtos e remédios falsificados, que está sendo chamado de Acta (sigla para Anti-Counterfeiting Trade Agreement). Para atrair a adesão do Brasil e da China, europeus e americanos flexibilizaram a versão final do documento, retirando do texto a obrigação do confisco de medicamentos genéricos nas fronteiras. Os dois países, porém, rejeitam o acordo.
O jornal O Estado de S. Paulo revelou ontem que, após três anos de negociações, Europa, Estados Unidos e outros países ricos haviam chegado a um acordo para tentar reduzir o comércio de produtos e remédios falsos – um mercado de US$ 250 bilhões, controlado por organizações criminosas. Os países emergentes, no entanto, tomaram o acordo como uma verdadeira declaração de guerra: dizem que não foram incluídos nas negociações e argumentam que as medidas são direcionadas contra eles.
O Brasil informou que não reconhece a legitimidade do tratado. “No mínimo, o acordo nasceu com dois pecados capitais”, disse o embaixador do Brasil em Genebra, Roberto Azevedo. “O primeiro é ter sido negociado por um grupo fechado. E o outro, o de olhar apenas para os direitos do detentor da patente e não para suas obrigações”, indicou.
O acordo pode afetar de forma profunda o comércio de remédios genéricos entre emergentes. O problema, dizem esses países, é que o acordo não visa apenas aos produtos falsos, mas a uma gama de remédios produzidos na Índia e China sem patente nesses locais. Por isso, EUA e Europa os consideram falsos.
Essa classificação já causou perdas ao Brasil. Carregamentos de um remédio da Índia ao Brasil foram bloqueados em sua passagem pela Holanda porque a empresa que detinha a patente na Europa apresentou denúncia, alegando que o trânsito da versão genérica era ilegal.