Brasil, África do Sul e Índia lançaram uma cooperação nuclear como forma de garantir o abastecimento de energia que possa alimentar o crescimento de suas economias nos próximos anos. A iniciativa foi anunciada nesta terça-feira (17) em Nova Délhi, durante um encontro entre ministros dos três países, conhecidos como IBAS (sigla para Índia, Brasil e África do Sul). O chanceler Celso Amorim, em entrevista a jornais indianos, não descartou que a cooperação possa ocorrer também no ciclo do combustível nuclear.
Em um comunicado, o grupo defende "o crescimento e desenvolvimento sem impedimento de usos pacíficos para a energia atômica, por meio do fornecimento de tecnologia, equipamentos e materiais, sob salvaguardas apropriadas, e reafirma sua intenção de intensificar a cooperação".
Garantindo que vão cumprir obrigações legais internacionais, os três países insistem que precisam garantir o fornecimento de energia segura, sustentável e a partir de fontes não poluentes. O objetivo seria o de garantir a demanda cada vez maior por energia nos países em desenvolvimento. "Nesse contexto, os ministros concordam que a energia nuclear poderia ter um papel importante", afirma o comunicado.
Em entrevista publicada hoje no jornal indiano The Hindu, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reconheceu que a cooperação poderá ser também no ciclo do combustível. "Se tivermos como desenvolver um acordo de salvaguarda efetivo, não vejo por que não (incluir o ciclo de combustível). Acho que precisamos começar com áreas como a medicina nuclear, o uso de isótopos para a preservação de alimentos. Mas não acho que temos de limitar a isso. Para nós, o importante é que a cooperação seja por objetivos pacíficos. Se pudermos isolar claramente isso de outros usos, não vejo qualquer problema", disse.
De fato, o documento emitido hoje ainda garante que o grupo "explora forma de cooperação para o uso pacífico de energia nuclear sob as salvaguardas apropriadas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)". Os três países ainda defendem que o acordo seja uma forma de fortalecimento do compromisso pelo desarmamento e não proliferação de armas nucleares. Por isso, o grupo insiste na necessidade de uma eliminação de armas nucleares no mundo e pede negociações sobre um programa que, gradualmente, gere esse desarmamento.
Autorização
Mas para que o acordo com Nova Délhi possa se tornar operacional na questão do ciclo do combustível, a Índia precisaria ganhar uma espécie de aval do Grupo de Fornecedores Nucleares, bloco dos 44 maiores fornecedores de urânio do mundo, entre eles o Brasil.
Para evitar uma proliferação de armas, o grupo avalia cada pedido de importação de urânio e, há anos, mantém uma postura restritiva em relação à Índia. O Brasil, como presidente do Grupo de Fornecedores, já apontou que estaria disposto a avaliar a questão de uma forma positiva.