Borba se enrolou na defesa e |
Brasília – O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, José Borba (PR), jogou ontem mais gasolina na fogueira da crise política e atirou contra o PT e o governo ao se defender das suspeitas lançadas contra ele por causa de seus contatos com o publicitário Marcos Valério de Souza, o homem acusado de ser o operador do "mensalão". Em nota lida ontem no plenário da Câmara e distribuída à imprensa, Borba explicou os encontros e conversas com Marcos Valério, relatados pela secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio, com a justificativa de que discutia com o publicitário a nomeação de peemedebistas para cargos públicos no governo federal.
Ao atribuir a Valério influência no preenchimento de cargos federais, o líder do PMDB aumentou o rosário de estranhas incumbências que seriam cumpridas pelo sócio das agências DNA e SMPB em nome do PT com mais uma missão – até agora desconhecida – no loteamento da máquina estatal. "Nunca recebi do senhor Marcos Valério qualquer numerário ou recursos financeiros, limitando-se o relacionamento ao fato de que o mesmo fazia parte do grupo do PT que exercia efetiva influência político-administrativa junto ao governo federal", diz Borba, em um dos trechos da nota.
"O meu relacionamento com líderes do PT, integrantes da sua executiva nacional e o senhor Marcos Valério sempre foi delimitado pela tratativa de ocupação de cargos públicos, em razão de pleitos de integrantes de nossa bancada, sendo leviana e politiqueira qualquer especulação de favorecimento financeiro a deputados do PMDB."
Em seguida, o líder do PMDB reafirma na nota os encontros com Marcos Valério para discutir nomeações e diz que chegou a obter êxito na indicação do ex-presidente da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) João Henrique: "O que discuti com dirigentes do PT e o senhor Marcos Valério é o que lideranças partidárias discutem hoje e sempre discutiram em todos os governos, a nomeação de seus partidários para cargos na administração. Um dos poucos sucessos nas tratativas com o mesmo grupo foi para a presidência dos Correios, por indicação do deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB, com a qual fui solidário, na nomeação do ilustre companheiro João Henrique".
Como explicação para a sua ida à agência do Banco Rural no Brasília Shopping, onde seriam feitos os pagamentos do "mensalão", segundo a denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Borba alega na nota que "é possível que tenha estado na agência do Banco Rural para atender pagamento ou efetuar operação bancária de natureza particular, já que freqüentava o prédio do Brasília Shopping para realizar exames laboratoriais e também visitar escritório de pessoa de minha relação de amizade".
A leitura da nota, feita pelo vice-líder do PMDB, Jorge Alberto (SE), já que Borba, pelo segundo dia consecutivo, não apareceu na Câmara, causou perplexidade no plenário da Câmara. "Ele fez uma verdadeira confissão de crime. Confessou a existência de uma quadrilha. O Marcos Valério, que não tinha função pública, participava na definição de cargos públicos que depois lhe rendiam contratos e recursos", disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP).
Goldman anunciou que vai requerer ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), a investigação do líder do PMDB no Conselho de Ética da Câmara. O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), negou a participação de Marcos Valério nas decisões do governo sobre o preenchimento de cargos e disse que Borba vai ter de dar explicações sobre suas declarações à CPI dos Correios e à Polícia Federal. "Nem o Roberto Jefferson, em seus momentos mais agudos, disse que o Marcos Valério participava da negociação de cargos.?
?A CPI e a PF vão ter de ver onde está a verdade diante das afirmações do líder do PMDB", reagiu Chinaglia. "A nota é muito ruim. Ele vai ter de se explicar na CPI’", referendou o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB). "Não precisa ter oposição nem conspiração das elites,como diz o PT. Isso é completamente desnecessário, porque esse governo e a sua base aliada são uma trapalhada só. Essa nota do Borba é uma prova disso", completou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE).
Ninguém entendeu: foi um belo estrago
Brasília – Na bancada peemedebista, os próprios aliados de Borba estavam com dificuldades para entender a sua atitude de atirar contra o PT e o governo, já que ele foi sempre um fiel aliado do Palácio do Planalto na Câmara. Na noite da última segunda-feira, Borba havia discutido uma versão bem mais light da nota, em que ele se defendia das acusações de participar do "mensalão" e omitia referências à participação de Marcos Valério na nomeação de cargos federais.
Uma explicação dada por aliados de Borba é que ele passou a desconfiar de que o seu nome foi incluído na lista dos suspeitos de integrar a bancada do mensalão numa manobra conspiratória do PT para envolver mais o PMDB na defesa do governo Lula. Até à citação do seu nome por Fernanda Karina, os peemedebistas vinham sendo poupados nas denúncias de Jefferson.
Briga interna
Outra explicação de amigos de Borba é que a nota foi uma resposta desastrada a uma briga interna no PMDB. A intenção do líder na Câmara, segundo esses aliados, seria na verdade reagir contra a tentativa da bancada do PMDB do Senado de aproveitar o seu desgaste para emplacar o senador Hélio Costa (PMDB-MG) no Ministério das Comunicações e barrar a nomeação do secretário-executivo Paulo Lustosa para o lugar do ministro Eunício de Oliveira. Lustosa tinha o apadrinhamento de Borba. Uma terceira versão é que o líder queria atingir com a nota apenas o presidente do PMDB, Michel Temer – daí à referência na nota à nomeação de João Henrique para os Correios.
Na noite da segunda-feira, Temer tentou convencer Borba a se afastar da liderança do PMDB até o próximo dia 10 de agosto – quando será eleito novo líder da bancada – para dar explicações sobre o seu envolvimento com o publicitário mineiro. A proposta foi mal recebida por Borba. Ontem, o deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS) começou a colher assinaturas para destituí-lo da liderança. "O Borba está atordoado", disse Temer. "A nota foi uma surpresa desagradável. Eu participei da indicação do João Henrique, mas nunca estive em reuniões com Marcos Valério."