Foto: José Cruz/Agência Brasil |
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Dom Aldo Pagotto: ?Não há contrapartida no programa?. |
O presidente da Comissão para Serviço de Caridade, Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Aldo Pagotto, fez duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, e disse que o Bolsa Família ?é um programa que vicia?. Ele afirma que não são exigidas contrapartidas das famílias. ?São várias famílias que se contentam com o mínimo?, completou.
Para Pagotto, é essencial que, além do programa de assistência, seja ofertado para famílias beneficiadas cursos e atividades que favoreçam o ingresso no mercado de trabalho. ?É preciso que se dê para adolescentes oportunidades de estudo não só acadêmico, mas também profissionalizante.?
Além de não garantir a independência das famílias, o programa tem um caráter individual, que também reforça a tendência de acomodação. ?Não estamos vendo o povo se juntar, se organizar.? O mesmo processo, afirma, ocorre também com assentamentos de semterra. ?São verdadeiras favelizações rurais. Sem condições de crédito, sem auxílio técnico, o povo vai desistindo de plantar. Não é uma crítica cáustica. Mas esses programas tem de ser urgentemente otimizados.?
A estratégia adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de buscar alianças com vários partidos para garantir apoio a seu segundo mandato, também foi duramente criticada por dom Aldo Pagotto. Para ele, barganha com partidos é uma mera reprodução de um sistema viciado. Dizendo estar decepcionado, ele afirma que o presidente deveria dedicar esta etapa à discussão de um projeto para a população, não com representantes de partidos, mas com representantes de movimentos sociais. ?A atitude de negociar no varejo traz um gosto de decepção e amargura na nossa boca?, resumiu.
O presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, foi menos contundente. Mas não deixou de classificar como ?duvidosas? as alianças feitas com partidos em nome de cargos e ministérios. Para ele, a adesão deveria ser espontânea. D. Pagotto observa que, além de reproduzir um sistema viciado, as negociações, quando restritas a representantes políticos, dificilmente trazem mecanismos que favoreçam reformas necessárias ao país. Ao contrário. Tais discussões, completa, geralmente têm como alvo apenas interesses corporativos. ?O povo não está mais opinando. Nós também temos de dar nossas opiniões. E não um representante, que não dá nem mesmo satisfação de sua gestão.?
Já d. Demétrio Valentini, presidente da Caritas, admitiu que o presidente está no seu direito de fazer essas negociações. ?Mas não basta uma governabilidade no Congresso Nacional. É preciso que o presidente se mostre com mais segurança, agora, do que no primeiro mandato. Com condições melhores de escutar os movimentos populares, que têm demandas bem concretas.?
