Dom Geraldo Majella Agnelo: reflexão. |
Cidade do Vaticano – A eleição de Bento XVI será o tema da reunião do Conselho Episcopal Pastoral, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de 10 a 12 de maio, em Brasília. O anúncio é do presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, um dos quatro cardeais brasileiros que participaram do conclave no Vaticano.
Depois de conversar sobre a questão com o secretário-geral da entidade, dom Odilo Scherer, que passou três dias em Roma para acompanhar, domingo, a missa de inauguração do pontificado, dom Geraldo concordou que seria oportuno fazer uma reflexão com a cúpula do episcopado sobre o perfil de Joseph Ratzinger e as expectativas de seu pontificado.
O objetivo é reafirmar a união dos bispos com o novo papa e garantir a ele a lealdade, a obediência e a solidariedade da Igreja brasileira, para eliminar eventuais preconceitos que possam provocar qualquer tipo de resistência. A eleição do cardeal alemão provocou críticas e restrições que dom Odilo considera superficiais e equivocadas.
?Pessoa culta e de cabeça aberta, Bento XVI será como papa diferente do homem que presidia a Congregação para a Doutrina da Fé?, prevê o secretário-geral da CNBB. ?Ratzinger terá, como papa, uma visão pastoral e abrangente da Igreja?, observou dom Geraldo, antes de voltar, ontem, para Salvador, sua arquidiocese.
Dom Geraldo e os outros três cardeais eleitores – dom Cláudio Hummes (São Paulo), dom Eusébio Scheid (Rio de Janeiro) e dom José Freire Falcão (arcebispo emérito de Brasília) – participaram, logo após o conclave, de um encontro no Colégio Pio Brasileiro, no qual vários alunos, todos padres que fazem especialização ou doutorado em Roma, questionaram a eleição de Ratzinger.
Segundo um dos participantes da reunião, os cardeais, especialmente o de São Paulo, justificaram a escolha de Bento XVI e manifestaram a esperança de que ele prestará grandes serviços à Igreja e à humanidade. Dom Cláudio revelou então, com a ressalva de que não estava infringindo o segredo imposto aos eleitores, que desde o início do conclave Ratzinger parecia ser o favorito, porque era o mais preparado para ser papa. O arcebispo de São Paulo garantiu aos alunos do Pio Brasileiro que as informações divulgadas na imprensa italiana sobre disputas entre candidatos à sucessão de João Paulo II não correspondiam ao que de fato ocorreu na Capela Sistina. Um dos nomes envolvidos num suposto ?duelo? com Ratzinger foi o do ex-arcebispo de Milão, cardeal Carlo Maria Martini, que na semana passada elogiou a escolha.
?Estou certo de que a grande responsabilidade que pesa sobre os ombros do novo papa o tornará cada vez mais sensível a todos os problemas que perturbam os corações de crentes e não crentes, abrindo para ele e para nós inesperados caminhos?, disse Martini em entrevista ao jornal italiano La Repubblica.
Certeza
O cardeal Martini, que encabeçou a lista dos ?papabili? enquanto ainda era arcebispo de Milão, cargo ao qual renunciou em fevereiro de 2002, ao completar 75 anos, fundamentou essa certeza na crença de que ?um pastor é sempre novamente educado e formado por seu povo, porque participa profundamente das suas ansiedades, de seus sofrimentos, de suas aspirações e de suas expectativas?.
Bento XVI manifestou disposição de agir e governar conforme as necessidades de seu rebanho e do mundo. ?Meu programa de governo não é fazer minha própria vontade, não é perseguir minhas próprias idéias, mas ouvir, juntamente com toda a Igreja, a palavra e a vontade do Senhor, ser guiado por ele, para que ele próprio lidere a Igreja nesta hora de nossa história?, anunciou durante a missa de abertura do pontificado. Depois do impacto inicial que foi a eleição, pois ela surpreendeu a quem não acreditava na opção dos cardeais por um nome tão conservador – nem que escolhessem um membro da Cúria e, menos ainda, um alemão – começou-se a admitir que Bento XVI não repetiria na direção da Igreja o estilo de Ratzinger, teólogo competente, claro e duro na defesa da ortodoxia católica. Questões relevantes e delicadas, como a proposta de mudança da orientação pastoral adotada com relação aos divorciados recasados, que estavam à espera de solução na gaveta do então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, dependerão agora de sua decisão como papa. A pergunta é esta: será que, tendo uma visão mais ampla dos problemas da Igreja, ele será mais condescendente?
?Difícil prever uma abertura maior nesse campo, porque se esbarra no argumento do matrimônio indissolúvel, pois Cristo condena o divórcio?, adverte o secretário do Pontifício Conselho da Família, o bispo suíço-brasileiro dom Karl Josef Romer. Significa que Bento XVI poderia ampliar o espaço para os casados em segunda união, mas não permitiria que recebessem o sacramento da eucaristia. Compreensão pastoral e maior acolhida na comunidade, como já ocorre em muitas dioceses, mas não muito mais do que isso. Não se espera também que o novo papa venha a abolir o celibato, permitindo que os padres se casem, embora seja essa apenas uma lei eclesiástica – e não uma imposição do Evangelho – que poderia ser alterada. Menos ainda que Bento XVI possa concordar com a ordenação de mulheres. A Igreja não admite o sacerdócio feminino porque Jesus Cristo só escolheu homens para serem seus apóstolos. Aprovação do aborto, eutanásia, uso de preservativos e união de homossexuais são outros problemas sem nenhuma perspectiva de alteração dos princípios morais da teologia, a não ser uma maior abertura pastoral.