Após quase um mês de detenção, o bispo de Formosa, d. José Ronaldo Ribeiro, e outros seis presos durante a Operação Caifás, deflagrada em março pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado, deixaram a prisão na noite desta terça-feira, 17. Por unanimidade, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) concedeu habeas corpus, acatando ao pedido da defesa.

continua após a publicidade

Imagens divulgadas pela TV Anhanguera mostram a chegada do oficial de Justiça ao presídio de Formosa, acompanhada por parentes e amigos dos acusados, que comemoraram a soltura com palmas.

continua após a publicidade

Além de d. Ronaldo, foram soltos o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, os padres Mário Vieira de Brito, Walterson José de Melo e Moacir Santana, além dos empresários Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa, apontados como “laranjas” do esquema. O juiz eclesiástico Thiago Wenceslau de Barros permanece preso, pois, segundo seu advogado, o pedido dele ainda não foi analisado pela Justiça. A expectativa também é de decisão favorável.

continua após a publicidade

As investigações da Operação Caifás culminaram na prisão do grupo no dia 19 de março. Os religiosos são suspeitos de integrar uma organização criminosa acusada de desviar mais de R$ 2 milhões da Igreja Católica. Além do dízimo, a investigação apontou que o grupo se apropriava de dinheiro oriundo de doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como batismos e casamentos. Com o dinheiro, os suspeitos teriam comprado uma fazenda de gado, carros de luxo e até uma agência lotérica.

Reação da Igreja

As suspeitas de corrupção na diocese goiana de Formosa, a 80 quilômetros de Brasília, vinham sendo investigadas desde 2015, mas a prisão do bispo d. Ronaldo Ribeiro, 61 anos, surpreendeu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Quando um grupo de católicos de Formosa denunciou o escândalo, d. Ronaldo declarou, ano passado, que não havia irregularidade no emprego dos fundos arrecadados com a contribuição dos fiéis. Os paroquianos suspenderam a coleta do dízimo, em janeiro. Formosa tem 33 paróquias e 43 padres. Prelazia apostólica desde 1956, foi elevada a diocese em 1979. D. Ronaldo, até então bispo de Janaúba, em Minas, foi transferido para Formosa em 2014.

Na segunda-feira, 16, o arcebispo de Uberaba, d. Paulo Mendes Peixoto, nomeado administrador apostólico de Formosa (GO), relatou em sessão privada a situação para os participantes da Assembleia Geral da CNBB em Aparecida, mostrando as dificuldades que está enfrentando para acompanhar o processo. Peixoto, que conduz apurações da Igreja sobre as suspeitas, contestou os indícios e saiu em defesa do religioso.

“D. Ronaldo foi preso no dia 19 de março a pedido do Ministério Público de Goiás, com mais dez pessoas, em consequência de denúncias que parecem não terem fundamento”, disse d. Paulo à reportagem, ao lado de d. José Aparecido Gonçalves de Almeida, bispo auxiliar de Brasília e seu assessor jurídico no caso.

Ele contou que teve uma crise de choro ao visitar d. Ronaldo no presídio, dia 5. “Estava vestido de bermuda e camisa brancas, como os outros presos, no setor da enfermaria, onde conversei com ele por uma hora. Está debilitado moralmente, por causa das acusações, que afirma serem falsas.”

O administrador não encontrou até agora registro de gastos excessivos ou de compras de carros de luxo. Além de haver justificativa (herança individual) para a fazenda e a lotérica. Com relação ao excesso de gastos na residência episcopal, as investigações de d. Paulo Peixoto e de d. José Aparecido levam a crer que as despesas aumentaram pelo fato de d. Ronaldo ter acolhido ex-dependentes de drogas e dois jovens que criou e o chamam de padrinho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.