Anapu, PA (AE) – O bispo de Altamira, dom Erwin Krautler, denunciou domingo uma manobra dos governos federal e do Estado do Pará, com a cumplicidade da Justiça, para encerrar as investigações do assassinato da irmã Dorothy Stang, sem que todos os responsáveis pelo crime sejam identificados e processados. ?Esse crime foi planejado nos mínimos detalhes. Cadê os outros membros do consórcio de grileiros e madeireiros envolvidos? Por que não foram ouvidos os que comemoraram o crime com fogos, festas e bebedeira??, indagou o bispo, que comanda também a Prelazia do Xingu, uma das regiões mais atingidas por conflitos de terra do País.
Norte-americana naturalizada brasileira, irmã Dorothy foi emboscada e morta com seis tiros em 12 de fevereiro de 2005, quando se dirigia para uma reunião com colonos do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS). Já foram condenados até agora o autor dos disparos, Rayfran Neves Salles, que pegou 27 anos, e seu cúmplice, Clodoaldo Batista. Com julgamento previsto para até maio, estão presos os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, acusados de encomendar o assassinato, além de Amair Feijoli da Cunha, o Tato, denunciado como intermediário da execução.
Para dom Erwin, essas prisões funcionam como uma espécie de cortina de fumaça para dar uma satisfação à opinião pública e deixar empresários e políticos poderosos envolvidos de fora do processo. ?A justiça não foi feita com essas prisões. Isso foi coisa para inglês ver. Há muito mais gente com culpa no cartório e a impressão que dá é de um jogo de empurra?, disse. Ele defendeu que as investigações sejam retomadas imediatamente. Don Erwin figura numa lista de 48 pessoas marcadas para morrer.
Governo elogia investigações
O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, elogiou ontem as investigações sobre o assassinato da missionária Dorothy Stang, que terminaram com cinco pessoas presas. ?Essa tragédia foi apurada em tempo recorde. Nunca houve no Brasil um caso em que um homicídio como esse fosse desvendado em menos de um ano e os criminosos fossem a júri?, afirmou. Domingo, o crime completou um ano.
