Por quatro dias, Curitiba foi a Woodstock dos quadrinhos brasileiros: de quinta-feira até este domingo (11), a cidade foi sede da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, antiga Gibicon, e reuniu cerca de 60 quadrinistas, muitos do primeiro time nacional: Jaguar, Laerte, Marcello Quintanilha, André Dahmer, Adão, Allan Sieber e muitos outros, além de presenças internacionais, como de Joan Cornellà, Power Paola e Troche.

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A curadoria apostava em debates para relacionar os quadrinhos com a situação social do Brasil, e houve vários – mas também ficou clara a insatisfação generalizada que cerca as editoras de todos os tamanhos em relação à distribuição das obras e publicações nas livrarias e bancas do País.

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Em uma mesa que reuniu cinco editores que publicam quadrinhos no Brasil, a distribuidora Dinap – que virou Total Express e desde 2007 tem o monopólio de distribuição de publicações – foi o grande alvo das críticas. “O governo permitiu um monopólio. Existe só uma distribuidora, e esse fato tornou o mundo de revistas um tédio no Brasil”, diz o editor da Veneta, Rogério de Campos. “A Dinap está em crise”, apontou o editor da Mauricio de Sousa Produções, Sidney Gusman. “E também não existe um plano B no Brasil. Se ela quebrar, não temos alternativa, no outro dia não tem distribuição de revistas.”

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Em outro encontro que também juntou editores, dessa vez de editoras menores, também se lamentou o fato de os quadrinhos independentes não conseguirem mais chegar às bancas com força, como acontecia no passado. “Não foram os editores que sumiram das bancas, nem as bancas que fugiram dos editores”, afirmou o editor da Marsupial, Lucio Luiz. “A concentração do mercado ficou de tal jeito que eles, da distribuição, definem as regras do jeito que querem.”

Outro encontro disputado foi com a cartunista Laerte, que comentou o momento político conturbado do Brasil. “A marca de uma sociedade atuante nos anos 1980 eram os sindicatos, e agora me parece que os trabalhadores têm sido deixados de lado”, afirmou. Comentando que a ingenuidade perdeu território, ela lembrou da época da revista Chiclete com Banana. “Eu no Los Tres Amigos fiz questão de fazer uma personagem drag queen. Eu não sabia que era trans, ainda era nebuloso, mas sabia que era gay. Meus quadrinhos sempre abriram meu caminho.”

Em uma mesa para celebrar o Pasquim – uma das poucas coleções completas do semanário está em Curitiba, na Gibiteca – Jaguar, de 84 anos, fez o auditório do Museu Municipal de Arte chorar de rir com histórias e causos, e não se furtou a comentar sua recente demissão do jornal O Dia, depois de 30 anos de colaboração.

“Foi um e-mail e nem foi dirigido a mim: foi ao meu contador, que eu nem conhecia pessoalmente, ele mora em Niterói. Ele repassou o e-mail para a minha mulher e eu fiquei sabendo”, contou. “É uma situação engraçada, porque tive um grande alívio. Todo dia, há 60 anos, tenho que fazer uma p… de charge”, brincou. “Agora, vou passar uns dias na Europa, em Portugal, suspender a dieta, tomar uns vinhos. Se sobreviver, vamos ver como é que fica.”