São Paulo
– O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, disse ontem que a instituição está disposta a ajudar no programa de combate à miséria, Fome Zero, do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Iglesias, que deve se encontrar com Lula hoje à noite em São Paulo, evitou, no entanto, dizer se já há recursos disponíveis para esse apoio.“É muito cedo para dizer quanto dinheiro estará disponível. Vamos trocar idéias, falar sobre cifras globais e quanto de recurso pode ser alocado para o Brasil”, disse Iglesias. “Essa troca de idéia é para mostrar que estamos prontos para continuar cooperando ativamente no Brasil e que queremos ser um instrumento importante nas políticas do novo governo.”, disse.
Iglesias ressaltou que este primeiro encontro com Lula será uma oportunidade de conhecer as grandes prioridades do novo governo, e como poderão trabalhar juntos no futuro. Ele destaca ainda que a prioridade do BID é a área social. “Mas vamos procurar conhecer um pouco as idéias do PT sobre outras áreas também.”
Para Iglesias, o programa de combate à miséria do PT é “muito importante” porque em toda a América Latina ainda há “problemas seríssimos nessa área”. Iglesias não descarta, entretanto, continuar o apoio ao programa anticorrupção desenvolvido pelo atual governo. “Não sei se esse ponto será discutido com Lula. A pauta do encontro é dele. Mas acho importante manter a transparência dos governos federal, estaduais e municipais, possibilitado pelo projeto anti-corrupção. É um trabalho que não termina nunca”, disse Iglesias.
Sobre a decisão da Prefeitura de São Paulo de adiar o pagamento da amortização da dívida com a União em novembro, Iglesias afirmou que não conhece o problema o suficiente para poder opinar sobre o impacto que o não pagamento traria às operações de empréstimo do BID. “Em todo o caso, todas as intervenções do Banco com Estados e municípios tem a garantia do governo federal e, portanto, para nós essa decisão não seria um problema”, disse.
Alckmin
O governador reeleito do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que recebeu, nesta manhã, no Palácio dos Bandeirantes, o presidente do BID, também se comprometeu a ajudar no combate a fome. “Não conversei com o Lula sobre esse assunto. No dia seguinte da eleição liguei para cumprimentá-lo, mas não entramos em detalhes sobre programas. Acho que os Estados podem colaborar porque num País de dimensões continentais como o Brasil, quanto mais descentralizar, melhor”, disse Alckmin. O governo paulista tem quatro projetos sendo realizados em parceria com a instituição. Um deles é a linha cinco do metrô (Capão Redondo-Largo 13), já em fase final. A linha já entrou em operação comercial parcial no fim de outubro. Os outros três projetos em andamento são erradicação de cortiços, recuperação de rodovias e um projeto de saneamento básico.
De uma maneira geral, para a execução dos projetos, o governo paulista entra com a metade dos recursos e o BID com a outra metade. Para a erradicação de cortiços foram investidos US$ 110 milhões, para a recuperação de rodovias US$ 240 milhões e no Projet o Tietê II (segunda fase), US$ 400 milhões.
Graziano viaja aos EUA
Brasília
(AG) – O coordenador do programa Fome Zero, José Graziano, informou ontem que visitará os Estados Unidos e o México na próxima semana. Nos Estados Unidos, ele participará do encontro de avaliação de segurança alimentar, em Washington. O encontro é organizado pela FAO (Fundo das Nações Unidas para Alimentação) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em seguida, ele conhecerá o programa de segurança alimentar mexicano.Segundo Graziano, programas como os que são desenvolvidos no México, no Canadá, nos EUA e em outros países podem servir de subsídio ao que se pretende fazer no Brasil. Graziano afirmou que ainda não está fechada a forma como será executado o programa de combate à fome.
Está decidido que haverá um cartão vinculado à compra de alimento, mas ainda não se sabe como isso será operacionalizado – se as pessoas beneficiadas poderiam usar o cartão para sacar dinheiro e comprar comida; se seria usado exclusivamente em supermercados; entre outras hipóteses. – O certo é que tem que se vincular o gasto ao alimento – disse Graziano.
Proposta
O ministro da Previdência, José Cechin, criticou a proposta do governo eleito de conceder um cupom ou cartão alimentação. Depois de participar da abertura do seminário ?Estratégias para superação da pobreza?, o ministro disse que a idéia de um cupom pode criar um mercado paralelo como o que já existe com os tickets refeição e vale transporte. – Essa idéia do cartão pode se espelhar na do ticket alimentação. O que as pessoas fazem com ele? Vai para a finalidade que foi desenvolvido? Mesmo recebendo o cupom direcionado não há garantia de que vai para sua finalidade. A pessoa pode monetizar com deságio. Então, por que não dar diretamente dinheiro? – indagou.
O ministro disse que esse tipo de mecanismo pode gerar um custo administrativo maior. Ele lembrou da extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA). Segundo ele, em 1995, estimava-se que para cada R$ 1 que era destinado à assistência, R$ 0,60 eram gastos na administração.