Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil |
Bento XVI reafirma compromisso com valores tradicionais do catolicismo. |
São Paulo – A Catedral da Sé foi ontem o palco do mais forte discurso feito pelo papa Bento XVI, em sua primeira visita ao Brasil. Em um pronunciamento de cerca de meia hora, dirigido à cúpula da Igreja Católica no País, além de reafirmar de forma enfática o compromisso de seu pontificado com os valores tradicionais do catolicismo, ele atacou também a corrupção na política brasileira. Bento XVI pediu que a Igreja ajude a formar políticos e empresários para que atuem pelo ?bem comum? e não para ?procurar ganâncias pessoais?. O pontífice ainda lembrou que ?um imenso contingente de brasileiros vive em situação de indigência? e criticou a desigualdade na distribuição de renda que atinge patamares ?muito elevados?.
O discurso, considerado pelo Vaticano como um dos principais da viagem ao Brasil, tinha como objetivo dar uma orientação sobre como devem atuar os bispos para garantir o desenvolvimento da sociedade e da Igreja. ?Ocorre formar nas classes políticas e empresariais um autêntico espírito de veracidade e de honestidade. Quem assume uma liderança na sociedade deve procurar prever as conseqüências sociais, diretas e indiretas, a curto e longo prazos, das próprias decisões, agindo segundo critérios de maximização do bem comum, ao invés de procurar ganâncias pessoais?, disse o papa.
Antes de falar sobre a situação dos políticos, Bento XVI descreveu a Igreja como ?santa e incorruptível?, ainda que se referisse aos valores, e como a palavra de Cristo é seguida. Mas a situação econômica do povo também deve ser alvo de um trabalho da Igreja, segundo o pontífice. ?Deve-se trabalhar incansavelmente para a formação dos políticos, dos brasileiros que têm algum poder decisório, grande ou pequeno, e, em geral, de todos os membros da sociedade, de modo que assumam plenamente as próprias responsabilidades e saibam dar um rosto humano e solidário à economia?, disse. ?Não é nenhuma novidade a constatação de que vosso País convive com um déficit histórico de desenvolvimento social, cujos traços extremos são o imenso contingente de brasileiros vivendo em uma situação de indigência e uma desigualdade na distribuição de renda que atinge patamares muito elevados?, completou.
O papa chegou pontualmente à Catedral da Sé, às 16h, saudado com o badalar dos sinos da Catedral, e foi aclamado ao som de ?Bento, Bento, Bento? pela multidão que se aglomerava em frente ao local. De acordo com informações da Polícia Militar, mais de 500 mil pessoas acompanharam o trajeto do papa desde a saída do Mosteiro São Bento até a Catedral da Sé.
Bispos devem evitar fuga de católicos, diz papa
São Paulo (ABr e AE) – O papa Bento XVI chamou a atenção dos bispos brasileiros para que se esforcem mais para conter a migração de católicos para outras religiões. Segundo ele, a falta de evangelização faz com que, mesmo batizadas, as pessoas fiquem vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas. O papa se reuniu ontem com os bispos do Brasil na Catedral da Sé, em São Paulo, antes de viajar para a cidade de Aparecida, no interior paulista, onde irá participar da 5.ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.
Bento XVI afirmou que é preciso encaminhar a atividade apostólica no Brasil como uma verdadeira missão, promovendo uma evangelização metódica e capilar. Para ele, não se deve poupar esforços na busca de católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem da vida de Jesus Cristo. ?Com a multiplicação de novas denominações cristãs e sobretudo diante de certas formas de proselitismo, freqüentemente agressivas, o empenho ecumênico torna-se uma tarefa complexa?, afirmou. Prosélito é o indivíduo que abraça religião diferente da sua. ?Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo?, afirmou.
O papa disse que a Igreja enfrenta dificuldades como o ataque ao matrimônio e família e o alastramento da ferida do divórcio e das uniões livres. Bento XVI também afirmou que crimes contra a vida são praticados em nome dos direitos da liberdade individual e que pressões negativas são feitas sobre os processos legislativos.