Depois da Operação Dedo de Deus, que há 15 dias prendeu 44 pessoas ligadas à cúpula do jogo do bicho, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, decidiu atacar o problema pelas bases. Ontem (27), Beltrame deu voz de prisão, pela sexta vez, a um apontador do jogo do bicho que faz ponto próximo à casa dele, num dos quarteirões mais chiques de Ipanema. Roberto de Azeredo Coutinho atuava na esquina da Nascimento Silva com Garcia D’Ávila.

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Beltrame justifica a atitude dizendo que o combate a qualquer crime começa por ele. Mas, prendeu sabendo que Roberto seria solto tão logo chegasse à delegacia. De fato, os dois deixaram a DP praticamente juntos. A legislação impede que os anotadores sejam mantidos na cadeia porque o crime do qual são acusados é considerado leve. “Esta situação é um absurdo. Prendemos e depois eles são liberados porque a legislação não permite mantê-los presos”, disse Beltrame. “Chegou a hora da sociedade decidir o que deseja em relação ao jogo do bicho. Ou se criminaliza essa prática, ou se legaliza”.

Além de prender o anotador, Beltrame decidiu mexer nos procedimentos policiais. A Polícia Civil expediu hoje uma portaria que orienta os delegados a enquadrarem os anotadores do jogo no crime contra a economia popular. Na Operação Dedo de Deus, a polícia descobriu que os resultados dos sorteios estavam sendo manipulados pelos contraventores. Com base nisso, pretende abrir inquérito contra os anotadores.

Em 2011, a Polícia Civil e a Polícia Militar prenderam cerca de 3.350 contraventores, o maior resultado da história do Estado em um ano. A maior quantidade de prisões em um mesmo dia foi na sexta-feira, dia 23 de dezembro: 197 apontadores e 30 operadores de máquinas caça-níqueis foram detidos.

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O historiador Felipe Magalhães, autor do livro Ganhou, leva! O jogo do bicho no Rio de Janeiro, está convencido de que o jogo está em franca decadência. “A concorrência com outras loterias certamente ajuda neste declínio. O jogo do bicho é um jogo velho. Não sei por quanto tempo ele resiste”. Magalhães acredita que há anos o bicho não é mais a principal fonte de renda dos grandes contraventores, como Aniz Abraão David e Luizinho Drummond, que estão foragidos.