O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, planejou, comandou e acompanhou pelo telefone celular duas mortes de dentro do presídio de segurança Bangu 1, na zona norte do Rio, segundo o Ministério Público Estadual. Pelo menos duas pessoas morreram e outra ficou ferida na armadilha preparada pelo traficante. Beira-Mar decidiu se vingar de seus comparsas porque eles mataram três integrantes da quadrilha,sem a sua autorização.

O momento da chacina foi gravado por policiais federais, em uma escuta telefônica autorizada judicialmente a pedido do MP  40 dias depois da vistoria que promotores públicos fizeram em Bangu e provocou a exoneração do diretor da unidade, além do afastamento de todos os agentes.          ?Minha vontade seria interditar o sistema penitenciário. Mas não haveria onde pôr os presos. Talvez se faça necessária a intervenção das Forças Armadas no complexo. Isso se a Polícia Militar não tiver condições de intervir?, afirmou o procurador-geral do RJ, José Muiños Piñeiro Filho, após a nova gravação.

Aceito ajuda – O secretário de Justiça do RJ, Paulo Saboya, informou, por sua assessoria de imprensa, ?estar aberto a qualquer diálogo e a receber qualquer tipo de ajuda?. A governadora Benedita da Silva e o secretário de Segurança, Roberto Aguiar, não foram encontrados para comentar as declarações.

A PF estava monitorando as ligações de Beira-Mar no dia 27 de julho. Ele foi informado que ?Bone? fora morto. O traficante reagiu, inconformado com a terceira morte sem sua autorização. Com um comparsa, ele decide se vingar daqueles que desafiaram sua autoridade. São conversas gravadas entre as 19h18 e as 23h45.

Beira-Mar marca uma reunião para aquela noite, com a desculpa de colocar as coisas ?em pratos limpos?. Durante o encontro, Beira-Mar ordena que todos entreguem as ?peças? (armas). Assim que eles são desarmados, são disparados mais de 30 tiros. Morrem Antônio Alexandre Vieira Nunes, o Playboy, e Ednei Thomaz Santos. Adailton Cardoso Lima é ferido, mas sobrevive. O traficante chamado de Velho teria fugido. Os promotores não conseguiram identificar quem seria Daio, outro alvo de Beira-Mar.

Os policiais federais acompanharam todo o planejamento, ordem para execução e a própria chacina. O promotor Rogério Ferreira informou que a Polícia Militar chegou a ser avisada, mas em nenhum momento das conversas os traficantes haviam citado em que favela o crime seria cometido.

Com base na gravação, os promotores Rogério Ferreira, Rosana Petró, Valéria Videira Costa e Jorge Magno Vidal denunciaram o traficante por duplo homicídio qualificado. Eles pediram ainda a prisão preventiva do criminoso. A medida é para dificultar qualquer benefício que Beira-Mar venha a requerer. ?Ele tem mais de 400 anos para cumprir, mas só vai ficar 30. Ele vai permanecer no mesmo local em que está, e certamente fazendo uso, se não do objeto que serviu para a identificação do crime, mas de outros que chegarão até ele?, afirmou Muiñoz. ?É a falência do sistema penitenciário?.

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