Terceira escola com mais títulos do carnaval do Rio de Janeiro, com 13 conquistas (atrás de Portela, com 22, e Mangueira, com 19) e sexta colocada em 2017, a Beija-Flor de Nilópolis (município da Baixada Fluminense) foi a última escola de samba a desfilar na Marquês de Sapucaí na segunda e última noite de exibições no Rio. Com o enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, a escola desta vez apostou em uma contundente crítica social, repetindo o estilo e a polêmica da primeira noite de desfiles, protagonizada por Mangueira e Paraíso do Tuiuti.
A Beija-Flor fez um paralelo entre as mazelas brasileiras e o romance “Frankenstein”, escrito pela inglesa Mary Shelley (1797-1851) e publicado pela primeira vez em 1818, há exatos 200 anos. Ao longo de 36 alas e nove atos, a escola de Nilópolis representou a corrupção, a desigualdade socioeconômica, a violência e as intolerâncias de gênero, racial, religiosa e esportiva. Todas essas características compuseram o cenário “monstruoso” do Brasil.
Mesmo trocando seu tradicional luxo por fantasias que em muitos casos representavam o lixo, a escola é candidata ao título. Em outro desfile no qual usou essa fórmula, em 1989, ainda sob a liderança do carnavalesco Joãosinho Trinta, a escola foi aclamada pelo público e conquistou o vice-campeonato. Desta vez, pelo menos a aclamação já está garantida: ao final do desfile, a escola foi tão ou mais aplaudida que Portela e Salgueiro, as duas outras melhores agremiações da segunda noite de desfiles.
Para compor e denunciar as mazelas brasileiras, a Beija-Flor recorreu a diversos elementos: teve encenação de arrastão, teve prostituta e homossexual sendo alvos de preconceito, teve crítica à sonegação de impostos e teve até maus políticos sendo comparados a ratos. Ao final, uma mensagem de esperança: o último carro alegórico chamava “Ensinando a Amar”, e logo depois vinha um tripé (pequena alegoria) onde se lia que “o samba faz essa dor dentro do peito ir embora”.