A equipe médica do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, que cuida do recém-nascido baleado na barriga da mãe, confirmou que ele está com paraplegia, mas pode reverter o quadro e recuperar os movimentos das pernas. Tudo depende de sua evolução. O estado de saúde da criança ainda é considerado grave.
O projétil passou pelo crânio do bebê, entrou pelo ombro direito, atingiu a coluna e cruzou o pulmão. Segundo o coordenador médico da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do hospital da Baixada Fluminense, Eduardo de Macedo Soares, caso o bebê não regenere os movimentos, essa pode ser sequela mais grave que o bebê levará para vida.
“Esta é uma situação extremamente atípica (bebê atingido por projétil), e a criança apresenta quadro grave. Ainda há risco à vida, mas é menor do que na última sexta-feira, quando ele deu entrada no hospital. Mas ainda é muito cedo para fazer qualquer prognóstico e dizer qual é chance que ele se recupere totalmente e reverta o quadro de paraplegia. Mas os bebês surpreendem a gente”, disse o médico. “Esse bebê já é uma criança forte, um campeão, um guerreiro, por tudo o que já passou.”
Segundo o coordenador médico de neurocirurgia do hospital, Vinicius Mansur, apesar da lesão pulmonar, a criança respira sem ajuda de aparelhos e só precisa do auxílio de uma ventilação para dar suporte. Ele ainda se alimenta por sondas e não tem previsão de alta hospitalar.
Na última terça-feira, a criança passou por uma cirurgia de descompressão da medula para ela expandir e recuperar a lesão nas vértebras. Cerca de 30 médicos monitoram o bebê, que recebe visitas da mãe, a operadora de caixa Claudineia dos Santos Melo, de 29 anos.
O secretário de Estado de Saúde, Luiz Antonio Teixeira Jr., elogiou o tratamento recebido pela criança.
“Apesar de o Rio de Janeiro passar pela sua maior crise, com falta de recursos e insumos hospitalares, essa mãe e o bebê estarem vivos é o resultado de uma equipe médica comprometida. Eles tiveram tudo de melhor no tratamento”, disse o secretário.
O diretor geral do hospital, Manoel de Almeida, afirmou que, em 41 anos de carreira, nunca soube ou tratou de caso parecido.
“Nós já passamos por muita coisa difícil nesse hospital, como crianças atravessadas por vergalhões, e somos a unidade que mais atende vítimas de projétil de arma de fogo. Mas um bebê baleado na barriga foi inimaginável”, declarou Almeida. “O caso gerou uma comoção em toda a equipe médica. Todos nós temos filhos.”